Muçulmanos estão com Hillary, mas nem tudo são rosas para os democratas
No dia em que Hillary Clinton faz o discurso de aceitação, a TSF falou com dois responsáveis da Muslim American Society. O voto em Hillary é certo, mas querem melhorias no discurso democrata.
Corpo do artigo
Depois de ter sido oficialmente nomeada candidata do Partido Democrata, a antiga primeira-dama faz mais logo, em Filadélfia, o discurso de aceitação, para fechar de vez o ciclo e reunir todos os esforços para derrotar a candidatura de Donald Trump na eleição final, em novembro.
Perante sondagens que vão dando um equilíbrio entre as duas candidaturas, a ex-secretária de Estado vai precisar de contar com os votos de milhões de eleitores que integram as minorias existentes no país e que, em boa parte, estão descontentes com o discurso do candidato republicano, como é o caso da comunidade muçulmana.
Asad Zaman e Mazen Mokhtar, dois dos responsáveis da Muslim Amerian Society (MAS) - uma organização sem fins lucrativos e que tem como objetivo promover a participação ativa de jovens muçulmanos nas comunidades norte-americanas -, são também dois exemplos de muçulmanos preocupados com o futuro dos Estados Unidos.
Asad, responsável da organização no estado do Minnesota, nasceu em Daca, no Bangladesh, há 45 anos, chegou aos Estados Unidos há quase 30, e acompanha de perto a eleição presidencial. É apoiante de Bernie Sanders e tem esperança que, até novembro, os democratas se unam para derrotar Donald Trump.
"Eu acredito que, durante o próximo mês, a maioria dos democratas se vai unir, porque Donald Trump é um racista e um fascista. Estamos preocupados com o facto de ele querer dividir a América. Ele quer mandar embora os hispânicos, ele não gosta de muçulmanos, ele não gosta de árabes e este não é o tipo de país que a maioria de nós quer", afirma à TSF.
Mas, se as críticas ao candidato republicanos são muitas, para Asad Zaman, nem tudo são rosas no discurso democrata.
"O presidente Bill Clinton fez um discurso [na Convenção Democrata] em que disse que 'se fores muçulmano e quiseres combater o terrorismo, então fica e junta-te a nós'. E eu tenho uma pergunta: então e os muçulmanos que não tiverem a habilidade de combater o terrorismo, é suposto deixarem o país? Esta é uma declaração inaceitável, porque nós não dizemos para os brancos que 'se fores branco e quiseres lutar contra a morte de cidadãos negros és bem-vindo, caso contrário, vai-te embora'", lamenta.
Um tipo de discurso que, admite este muçulmano radicado nos Estados Unidos há vários anos, até pode "não ser intencional", mas que, certamente, "não ajuda" ao esclarecimento dos cidadãos norte-americanos.
Uma situação que não agrada a comunidade a residir nos EUA e que, sublinha também Mazen Mokhtar, um egípcio há vários anos no país, revela que existem falhas nos discursos de ambos os partidos. Ainda assim, salienta, os muçulmanos temem sobretudo as ações que podem resultar do discurso de Donald Trump.
"Eu não me sinto protegido por nenhum dos dois partidos, mas sinto-me ameaçado pela retórica de Donald Trump e de muitos republicanos. Não diria de todos, mas de muitos que aceitaram na sua linguagem racista e promotora da divisão. No essencial, se não fazes parte daquilo que é a maioria e do que está estabelecido em termos demográficos, então és visto com suspeição, e essa é uma grande diferença entre os dois partidos", adianta à TSF o diretor executivo da Muslim American Society e apoiante de Bernie Sanders.
Contudo, apesar das diferenças que admite serem claras entre os dois partidos, Mazen Mokhtar não manifesta, no entanto, o maior dos entusiasmos quando questionado, de forma direta, sobre de irá ou não votar em Hillary Clinton.
"Bem, eu certamente não vou votar Trump, vamos colocar isso dessa forma. Definitivamente não vou votar Trump", diz.
Uma grande certeza, que é também acompanhada de algumas dúvidas em relação à candidatura da antiga primeira-dama, que esta noite fala à convenção e que, perante os ataques dos republicanos às minorias, e em particular à comunidade muçulmana, deve conseguir assegurar boa parte dos votos do eleitorado muçulmano.
A TSF acompanha as eleições norte-americanas com o apoio da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento