Portugal entre os países europeus que mais consumirá energia para arrefecer edifícios. Associação pede criação de apoios públicos
Em declarações à TSF, Francisco Ferreira, da associação ambientalista Zero, apela ao Governo que crie apoios públicos para garantir o "acréscimo de consumo" e alerta: "Vamos ter uma enorme necessidade de adaptação a um clima cada vez mais quente." Já a Ordem dos Arquitetos lembra que a legislação tem vindo a mudar
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Portugal, Espanha, Grécia e Itália podem chegar a consumir 71% do total de energia na União Europeia (UE) utilizada para arrefecimento de edifícios, por causa do aquecimento global, segundo um relatório divulgado esta segunda-feira. A associação ambientalista Zero pede ao Governo para criar apoios públicos para "garantir o acréscimo de consumo".
De acordo com um relatório divulgado pela Agência Europeia do Ambiente, os problemas para a segurança energética variam na Europa, no entanto, nos países do sul há riscos “cada vez maiores” de ondas de calor, secas e escassez de água.
Estes fenómenos serão responsáveis por alterações nos comportamentos de consumo de energia, nomeadamente os sistemas de refrigeração dos edifícios.
“No futuro, Grécia, Itália, Portugal e Espanha poderão consumir 71% do total anual de energia utilizado para arrefecer edifícios residenciais na UE”, alertou a Agência Europeia do Ambiente.
Em declarações à TSF, Francisco Ferreira, da associação ambientalista Zero, apela ao Governo que crie apoios públicos para garantir este aumento do consumo, principalmente, face ao calor que se prevê para o futuro.
"Vamos ter uma enorme necessidade de adaptação a um clima cada vez mais quente. Os países que estão junto ao mediterrâneo vão ter enormes consumos face a este aumento de temperatura e isso levanta-nos a questão óbvia da pobreza energética, da necessidade de termos atenção, durante as ondas de calor, em garantir que as pessoas conseguem climatizar as suas casas", explica à TSF Francisco Ferreira, sublinhando que "é preciso que o Governo e o Parlamento estejam atentos a estes relatórios para agir".
O ambientalista frisa que é necessário "garantir que, por um lado, há mais fontes de energia renovável na produção de eletricidade - e aí Portugal está no bom caminho -, mas que também haja programas públicos para garantir este acréscimo de consumo e o apoio às famílias mais necessitadas".
Já Marlene Roque, da Ordem dos Arquitetos, também ouvida pela TSF, considera que este número (71%) poderá estar, de alguma forma, exagerado, uma vez que desde os anos 90 que a legislação começou a mudar para ter em conta as alterações climáticas. Em breve, garante, será publicada mais legislação, para "dizer aos arquitetos e aos projetistas que têm de desenhar para esta alteração climática".
"Quando dizemos que muitos edifícios são consumidores de muita energia para arrefecer, trata-se dos edifícios construídos até há 20, 30 anos. Desde 1998 tem vindo a ser introduzida legislação para isolarmos os novos envidraçados", sublinha, acrescentando que já há mudanças para melhorar a eficiência dos edifícios. Marlene Roque acredita, no entanto, que mais pode ser feito e que deve ser a União Europeia a apoiar.
"A disponibilidade financeira tem de vir da Europa, tem de se arranjar formas de promover esta melhoria e tem de ser de cima para baixo", refere.
No que diz respeito à descarbonização, o desígnio ecológico da União Europeia para as próximas décadas e que está a ser alvo de um debate cada vez mais intenso entre os países do bloco político-económico europeu, Portugal é apresentado como um “bom filho” de Bruxelas e um “exemplo na dianteira” deste objetivo.
Em 2023, as energias renováveis forneceram 73% da energia consumida no país, “posicionando-o como um dos países dianteiros na transição energética”.
“Portugal investiu imenso em energia hidroelétrica e eólica desde o princípio da década de 2000 e nos últimos anos aumentou rapidamente a capacidade da energia solar através de projetos de painéis fotovoltaicos e pela construção de instalações solares em telhados”, acrescentou o documento.
Em 2021, a conclusão do encerramento das centrais que produziam energia a partir do carvão representou “um momento decisivo na redução das emissões” de gases com efeito de estufa.
No entanto, ao nível da União Europeia a situação não é boa. O relatório da Agência Europeia do Ambiente reconhece que houve “progressos significativos” na redução das emissões de gases com efeito de estufa e na poluição do ar, mas o “cenário não é bom”.
A UE está atrasada nos objetivos a que se propõe e a natureza “continua a sofrer degradação, sobre-exploração e perda de biodiversidade”.
As consequências das alterações climáticas também estão a acelerar e são “um desafio imperativo” – o continente europeu já não é só a região do planeta que mais está a aquecer, há outras consequências que se estão a verificar em simultâneo.
Secas, cheias e ondas de calor são cada vez mais comuns e prolongam-se por mais tempo e para a diretora-executiva da Agência Europeia do Ambiente, Leena Ylä-Mononen, a UE “não pode dar-se ao luxo de reduzir as ambições climáticas, ambientais e de sustentabilidade”.
Citada num comunicado que acompanha o relatório divulgado, Leena Ylä-Mononen diz que face às evidências cientificas corroboradas pela agência “é preciso atuar”.
“Na UE estão as políticas, as ferramentas e o conhecimento, assim como décadas de experiência em trabalho para alcançar os objetivos de sustentabilidade. O que fizermos hoje vai definir o amanhã”, advertiu.
O alerta chega numa altura em que vários setores, por exemplo, o automóvel, e um conjunto alargado de Estados-membros disseram à Comissão Europeia que é necessário refazer os calendários e dilatar os prazos para cumprir as ambições climáticas, em prol da assegurar a competitividade da UE.
A indústria, de maneira generalizada, advertiu Bruxelas de que o ritmo de descarbonização é incompatível com a transformação da indústria, mantendo-a competitiva.
Notícia atualizada às 10h11
