Portugueses transformam óleo alimentar em detergente biológico e poupam 19 mil toneladas de CO2 equivalente
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Um laboratório da Universidade de Coimbra foi o ponto de partida para uma ideia que hoje está a revolucionar a economia circular em Portugal. O projeto ECO X, finalista do Regiostar, transforma óleo alimentar usado em detergentes, com uma abordagem que vai muito além da tecnologia: envolve educação, sensibilização ambiental e coesão territorial. À conversa com a TSF, em Bruxelas, o fundador do projeto, César Henriques, explica como surgiu a ideia, lembrando que, sem a rádio, este projeto dificilmente existiria.
Estava no laboratório a ouvir rádio e numa notícia alguém dizia que fazia sabão a partir de azeite. E aqui perguntei porquê o azeite, se o azeite é um bem de primeira necessidade, é um bem que nós necessitamos? Faria sentido era reutilizar um resíduo. E foi aí que se deu o clique para procurar mais e perceber que oportunidades podíamos ter
"Em Portugal, há muito óleo desperdiçado de forma inadequada para a rede de esgotos, que não é reutilizado, e isso deve-se essencialmente a duas ou três coisas. Uma delas é onde é que coloco, como é que reciclo e a outra é para ver se eu tiro benefício ou não deste resíduo", esclarece.
A inovação do ECO X está na tecnologia patenteada que permite transformar óleo usado em detergente de forma biológica, sem químicos nem resíduos.
Transformar gordura em sabão é algo que se faz há séculos, mas o que fizemos foi identificar uma proteína no corpo humano responsável por esse processo e transpor esse conhecimento para a valorização do óleo usado. É um processo acessível desde crianças até idosos
O projeto não se limita à tecnologia: é um exemplo de economia circular aplicada. O óleo é recolhido, transformado e vendido, principalmente a granel, incentivando a reutilização de embalagens e reduzindo o desperdício de plástico. O investigador admite que os resultados impressionam: mais de 500 toneladas de óleo recolhidas e detergente produzido na mesma quantidade, além de quase 300 embalagens de plástico evitadas e 19 mil toneladas equivalentes de CO2 poupadas.
O impacto do ECO X também é social. A equipa aposta na educação e sensibilização ambiental, envolvendo crianças que levam a mensagem para casa e influenciam hábitos familiares:
"Normalmente pensamos que nos projetos o mais difícil é arranjar dinheiro, fazer as coisas, fazer os produtos. Costumo dizer sempre que o mais difícil é arranjar clientes e fazer com que eles continuem a acreditar no projeto. E por isso, desde o início, sempre tivemos alguma estratégia que foi começar com os mais jovens, com as crianças, através da educação e da sensibilização."
César Henriques explica que, depois da fritura, o óleo deve arrefecer, ser colocado numa garrafa de plástico fechada e levado a um “óleão” — pontos de recolha disponíveis em supermercados e municípios.
A Eco X conta com uma rede de recolhedores que cobre mais de 90% do país e atua também nos arquipélagos dos Açores e da Madeira.
No país vizinho, em Espanha, os primeiros passos de implementação do projeto também já se fazem sentir. O objetivo passa por "começar a trabalhar mais a fundo, especialmente com o mercado asiático, onde há um grande potencial, e também com o mercado da Norte da Europa, onde podem surgir coisas boas", conclui o responsável.
A empresa é uma das cinco finalistas dos RegioStars na categoria Europa Verde. O vencedor é conhecido esta quarta-feira à tarde, em Bruxelas.