
Tiago Petinga/Lusa
No dia em que o primeiro-ministro começa a visitar Goa, a terra onde o pai cresceu, a TSF conta-lhe a história de duas goesas que vivem há décadas com o coração entre Portugal e Goa.
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Maria Virginia Bras Gomes e Maria de Lourdes Sousa. Ambas nasceram em Goa antes da anexação indiana em 1961. Ambas vieram para Portugal e aqui desenvolveram a sua vida pessoal e profissional. Só têm nacionalidade portuguesa, mas todos os anos regressam a Goa, sobretudo de férias, para ver família e amigos.
Virginia e Lurdes são apenas duas dos cerca de 20 mil goeses que, segundo a Casa de Goa, vivem em Portugal. E assumem que têm um pouco do coração nos dois lados.
Comecemos por Virgínia, que tinha 10 anos quando os militares indianos entraram em 1961 na capital do Estado Português da Índia. Lembra-se bem do dia, "havia tropas, aviões e tiros..." mas conta, entre risos, que "fomos para a casa da minha avó fora da cidade e para nós foi ótimo, na nossa inocência, pois não tivemos aulas a meio do período escolar".
Virgínia continuou em Goa, mas perto de uma década depois veio para Portugal onde ainda hoje trabalha na Segurança Social, além de ser perita independente da ONU para os direitos das mulheres no sudeste asiático.
A Índia proíbe a dupla nacionalidade e durante muitos anos Virginia, tal como muitos goeses que optaram por serem portugueses, teve de ir à embaixada em Lisboa pedir um visto de turista para visitar a sua própria terra, situação que recentemente se resolveu com a criação de um estatuto especial para os milhões de descendentes de indianos que vivem no estrangeiro.
Virginia Gomes conta que como vai muitas vezes a Goa, pelo menos de seis em seis meses, não tem aquela sensação do emigrante que volta ao país que não vê há vários anos: "É uma ligação dupla, uma pertença conjunta e o meu retorno a Goa é sempre um regresso a uma das minhas casas".
Lurdes tem uma história parecida à de Virginia: nasceu e passou a juventude em Goa, veio para Portugal, mas nunca mais deixou de visitar, com frequência, apesar da distância, o sítio onde nasceu. A portuguesa-goesa dá uma "imagem" para descrever-se a si e à sua vida: "É como uma criança que tem o pai e a mãe e vive entre os dois. É como eu: fui criada numa cultura portuguesa, penso em português, escrevo em português, leio poetas portugueses... mas tenho também uma parte da cultura indiana que está nos meus genes. Sou filha desses dois países... e sou, se calhar, uma pessoa rica porque tenho duas culturas, entre aspas... duas pátrias".