Presidente argelino renuncia ao quinto mandato, adia eleições e anuncia nova Constituição
As alterações inserem-se no dramático anúncio emitido pelo Presidente Abdelaziz Bouteflika, que cedeu à pressão popular e abandonou a sua candidatura a um quinto mandato.
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O Presidente da Argélia, que esta segunda-feira anunciou a renúncia a um quinto mandato para as presidenciais de 18 de abril, disse que vai formar um organismo especial para redigir uma nova Constituição, numa resposta aos amplos protestos populares.
As alterações inserem-se no dramático anúncio emitido pelo Presidente Abdelaziz Bouteflika, que cedeu à pressão popular e abandonou a sua candidatura a um quinto mandato.
Anunciou ainda o adiamento, sem data marcada, das eleições presidenciais que estavam agendadas para 18 de abril.
Em paralelo, a agência noticiosa oficial APS informou que Noureddine Bedoui, até agora ministro do Interior, foi designado primeiro-ministro em substituição de Ahmed Ouyahia, também muito contestado durante as mais de duas semanas de manifestações, os maiores protestos desde que assumiu o poder há 20 anos.
Bedoui será acompanhado por um vice-primeiro-ministro, Ramtane Lamamra, também nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros (posto que ocupou entre 2012 e 2017) na tarefa de formar um novo governo, acrescentou a APS.
Bouteflika prometeu não voltar a candidatar-se à Presidência, dando como justificação a sua saúde e idade. Com 82 anos, raramente tem sido visto em público desde um acidente vascular-cerebral em 2013, fazendo aumentar a frustração da população pelo seu evasivo estilo de liderança.
Após 20 anos no poder, Bouteflika anunciou esta tarde a sua decisão, numa carta ao povo argelino divulgada pelo seu gabinete. Prometeu uma estrutura de liderança interina para organizar novas eleições, confirmado que não voltará a recandidatar-se.
A decisão ocorre apenas três semanas após centenas de milhares de argelinos e terem manifestado pacificamente nas ruas do país para exigir a renúncia do chefe de Estado e a queda do regime, que acusam de corrupção generalizada.
Os protestos na Argélia, que se iniciaram há alguns meses nas bancadas dos campos de futebol, alastraram para as ruas em 22 de fevereiro, dois dias antes da partida de Bouteflika para Genebra onde esteve hospitalizado até domingo, e que também forçou o regime a suspender a inauguração do novo aeroporto de Argel, à qual deveria presidir.
Desde então, em particular às sextas-feiras, dia sagrado para os muçulmanos, milhões de pessoas têm protestado contra a corrupção de um regime dominado pelas Forças Armadas e os serviços secretos e que se enquistou progressivamente desde o fim da guerra de libertação, iniciada em 1954, e a independência da França em 1962.
Os estudantes têm mantido a pressão na rua, o que conduziu o regime a antecipar por dez dias as férias universitárias, que se iniciaram esta segunda-feira no país.
Na Presidência desde 1999, Bouteflika sofreu em 2013 um "derrame cerebral" que afetou as suas faculdades físicas e o impediu de fazer campanha nas presidenciais do ano seguinte, que voltou a vencer apesar dos protestos de uma oposição muito controlada.
Desde então não se exprime em público, move-se numa cadeira de rodas manejada pelo seu irmão Saïd e as suas aparições públicas são raras, e geral reduzidas a imagens gravadas pela televisão estatal por motivo do Conselho de ministros ou de vistas de altos dignitários estrangeiros.
Bouteflika não viaja há muito para o estrangeiro e nos dois últimos anos cancelou no último momento, por "recaídas de saúde", reuniões já confirmadas com altos responsáveis estrangeiros, incluindo a chanceler alemã Ângela Merkel e o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammad bin Salman.