Jornalista sul-coreano desiludido e triste. Ex-diplomata russo diz que é hora da Rússia, China Japão e Coreia do Sul voltarem a ocupar um lugar mais central.
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A segunda cimeira entre Donald Trump e Kim Jong-un terminou mais cedo e deixou no ar um sentimento de desilusão entre os que esperavam testemunhar a História ao vivo e a cores, em Hanói. A sala reservada aos jornalistas sul-coreanos era o espelho de expectativas goradas, após os líderes dos Estados Unidos e da Coreia do Norte terem falhado um entendimento que iria resultar na assinatura de um acordo.
O dia tinha começado com um tom otimista. Pelas nove da manhã, Trump e Kim voltavam a sentar-se lado a lado, depois do encontro e do jantar do dia anterior. As palavras voltavam a ser de elogios mútuos e de uma ideia que agradava aos dois: a abertura de uma representação de Washington em Pyongyang, um Gabinete de Ligação.
Contudo, pouco depois do meio-dia emergia a informação que a assinatura do acordo estava cancelada, tal como o almoço de trabalho entre as duas delegações.
Na conferência de imprensa, antecipada em duas horas, Donald Trump explicava que Kim exigia o levantamento total das sanções sem avançar com um nível de desnuclearização aceitável por Washington. Posto isto, o presidente norte-americano abandonou a mesa das negociações. Ainda assim, referiu que a relação amistosa entre as duas delegações não saiu beliscada e que havia condições para a continuação do diálogo entre as duas partes.
Nada disto alivia a sensação de desilusão e tristeza entre as dezenas de jornalistas sul-coreanos a quem foi reservada uma zona especial no centro de imprensa internacional. Jo Seong-eun, jornalista do diário Kukmin de Seul, estava com um ar abatido. "Ontem os líderes pareciam estar perto de um acordo e eu pensava que iríamos avançar para uma paz duradoura mas agora vamos ter de recomeçar o processo. Isto é difícil e algo doloroso", desabafa.
Também desiludido, mas menos preocupado, está Georgy Toloraya, antigo diplomata russo na Coreia do Sul e ex-responsável no Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia sobre as questões coreanas. O atual professor universitário salienta estar "um pouco desiludido porque as expectativas eram elevadas e tudo parecia estar a correr bem".
Toloraya considera que havia a esperança que o que não foi conseguido pelas equipas de negociações nas semanas anteriores, fosse alcançado através da relação pessoal entre os dois líderes "mas isso não se verificou".
Em todo o caso, o que se passou "não é trágico porque continuamos a não ter testes nucleares ou lançamentos de mísseis e não há ameaças militares nem exercícios militares".
Mas há que ter em conta os outros atores-chave, sobretudo a China e a Rússia. "Há agora que abrir espaço para o segundo anel deste processo". Toloraya gostava de ver um regresso ao modelo de negociações seis vigente entre 2003 e 2007 com a China, Rússia, Japão, Estados Unidos, Coreia do Sul e Coreia do Norte à mesa.