Quatro dias depois do colapso da barragem, é o cheiro que guia as equipas de resgate
Ainda há 300 desaparecidos na barragem de Corrego do Feijão, mas as operações de resgate são tão arriscadas como infrutíferas.
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Não são fáceis as operações de buscas na barragem em Brumadinho, Brasil, cuja rutura fez pelo menos 60 mortos e deixou 292 pessoas desaparecidas esta sexta-feira.
Caminhar sobre lama ainda é impossível. As autoridades têm de usar pedaços de madeira e galhos apanhados no mato para fazer pontes improvisadas sempre que avistam uma potencial vítima.
"Procuramos sobreviventes, sempre. Mas aqui, a verdade é que nos estamos a guiar pelo cheiro dos corpos", conta um dos membros da equipa de resgate que um jornalista do Estadão acompanhou.
A visibilidade no rio de lama com mais de 60 metros de largura é reduzida e com um passo em falso na lama é fácil afundar cinco ou seis metros e arriscar não voltar a sair.
Quando encontram partes de corpos, os restos mortais são passados de mão em mão até uma das margens.
Se encontrarem um corpo o trabalho é ainda mais difícil, porque ninguém se consegue pôr de pé sem afundar na lama. Muito a custo, deitados sobre a lama, têm de arrastar a vítima para terra firme.
A causa do acidente ainda está por apurar. O autarca de Brumadinho, Avimar de Melo Barcelos, acusa a construtora da barragem de "incompetência", mas a empresa Vale assegura que tinha garantidas a "segurança física e hidráulica da barragem".
Enquanto a empresa alemã que fez a última inspeção ao local diz que não foram detectados quaisquer problemas, outras falhas são apontadas à proprietária.
Várias fontes dizem que o alarme que deveria ter tocado no momento em que a barragem cedeu não foi acionado.
Esta não é a primeira vez que a empresa Vale está envolvida em acidentes com barragens. Em novembro de 2015, a barragem de Mariana também cedeu, provocando a morte a 19 pessoas.
A lama contida pela barragem atingiu ainda o rio Doce e os seus afluentes, deixando milhares de residentes sem água e sem trabalho. Foi o maior desastre ambiental do Brasil.