"Mãe, posso ir ter com o pai?" A receção aos militares que foram apoiar Moçambique
O Comandante Conceição Batista é um dos 41 militares que regressaram esta manhã a Lisboa, depois de nove dias de missão humanitária em Moçambique.
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"Mãe, posso ir ter com o pai?", pergunta ela assim que o avião aterra na pista de Figo Maduro. Tem quatro anos, traz um vestido verde e os cabelos louros esvoaçam enquanto corre pelo hangar. O pai é um dos 41 militares que regressaram esta manhã a Lisboa, depois de nove dias de missão humanitária em Moçambique.
Já com a filha ao colo, o Comandante Conceição Batista, dos fuzileiros da Marinha, admite que as saudades foram difíceis de suportar. "A família que fica aqui sofre um bocadinho com a nossa ausência, mas faz parte da nossa missão."
Na região da Beira, desde 22 de março, a Força de Reação Imediata integrou militares da Marinha, do Exército e da Força Aérea. Foram nove dias de missão em que os militares portugueses fizeram de tudo um pouco, como operações de busca e salvamento.
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"Posso contar só uma situação, estávamos a realizar um reconhecimento aéreo, com apoio de uma aeronave da Índia, e durante esse reconhecimento foi identificada uma zona onde havia uma mulher a pedir apoio, com os braços estendidos para a aeronave, depois foi retirada para o aeroporto da Beira para que fosse assistida."
Quem vem traz memórias pesadas, difíceis de descrever. "Foi chocante, porque nós cá estamos habituados a ter tudo e chegamos lá e é completamente diferente, mas foi bom e gratificante saber que podemos contribuir, mesmo que seja com pouco, para eles é muito."
O relato é da Tenente Joana Ramalho, médica do Exército. Durante a missão, a militar portuguesa deu apoio na vacinação de centenas de pessoas contra doenças como a cólera, o tétano e a hepatite. "Daí que seja importante a distribuição de água engarrafada, como também fizemos, mas também explicar à população como podem tornar a água poluída em água potável, nomeadamente com a purificação", explica.
Além de água engarrafa e cloro, enviado pelas Forças Armadas portuguesas para a purificação da água, os militares forneceram cerca de 5 toneladas de alimentação de emergência e ajudaram no restabelecimento das comunicações.
O Cabo Rafael Pereira, da Força Aérea, fez parte da equipa de comunicações e garante que a falta de contacto com o exterior foi um dos principais obstáculos no terreno. "Sentimos desde o primeiro dia as dificuldades em conseguir manter comunicação aqui com Lisboa, a rede de telemóvel não existia, quando existia era muito limitada, dificilmente conseguimos ter Internet estável para conseguir dar apoio ao consulado português e à população de Moçambique."
Ao nível da engenharia, a missão portuguesa ajudou ainda a avaliar o estado e estrutura de edifícios danificados pelo ciclone, o que vai ajudar a estimar os custos para a reabilitação das infraestruturas. No total, a Força de Reação Imediata contou com 47 militares dos três ramos das Forças Armadas: 41 regressaram esta manhã a Lisboa, os restantes seis vão continuar por mais alguns dias na região da Beira para garantir a continuação dos serviços prestados pela missão portuguesa.