A 18º semana consecutiva de protestos coincide com o fim do "grande debate" nacional conduzido pelo Presidente francês. O numero de participantes tem vindo a diminuir nas ultimas semanas mas para a manifestação deste sábado, os apelos multiplicaram-se e as autoridades temem que haja recurso à violência.
Corpo do artigo
Chegou ao fim o "grande debate" nacional conduzido pelo Presidente francês. Durante os últimos dois meses, Emmanuel Macron visitou o país, ouviu os franceses e tentou encontrar respostas às exigências dos Coletes Amarelos. Enquanto isso, nas ruas, o movimento foi enfraquecendo.
Para este 18.º sábado de manifestação, as forças de ordem estão à espera de uma forte mobilização, principalmente em Paris. Os manifestantes prepararam os protestos de hoje há várias semanas para marcar o fim do "grande debate" nacional, mas também para marcar os quatro meses do movimento.
Frédéric Mestdjian participa nas manifestações desde o primeiro sábado, dia 17 de novembro, fundou a lista para as eleições europeias União Iniciativa Cidadã, e alerta para o facto de os atos violentos serem criados para descredibilizar os protestos.
TSF\audio\2019\03\noticias\16\ligia_anjos_18a_manifestacao_dos_coletes_amarelos
"A manifestação nas ruas é muito desgastante para os manifestantes, como também para os polícias. As forças de ordem nem sempre são bem pagas e vivem com os mesmos problemas que os outros cidadãos. A maioria não se orgulha das ordens que recebe e do que faz. Existem conflitos dentro da polícia, mas disto não se fala porque seria perigoso. Querem guardar uma imagem de polícia unida e às ordens, o que na realidade não é o caso porque se levantam cada vez mais conflitos internos".
Desde o início da contestação dos Coletes Amarelos, a Inspeção Geral da Polícia Nacional francesa registou uma centena de acusações de uso excessivo da força contra o movimento. A França é um dos únicos países da Europa a utilizar a arma LBD ("Lançador de Balas de Defesa"), cuja utilização tem sido polémica. Cerca de 70 Coletes Amarelos ficaram gravemente feridos por tiros de borracha lançados por estas armas.
Desde o início do movimento 22 manifestantes perderam a vista. Cinco perderam as mãos, o que não tira vontade em continuar a manifestar explica Frédéric Mestdjian, "quando se perde uma mão ou um olho a um manifestante e ele continua a protestar começamos a perceber que para além de o matar não é possível impedi-lo. São pessoas cada vez mais determinadas e, na grande maioria, que não cedem à violência".
Segundo dados do Ministério do Interior francês, em quatro meses mais de 20 pessoas perderam a vida, 1800 ficaram feridas e mais de 8000 foram detidas. O provedor da justiça francês, Jacques Toubon, publicou esta semana um relatório no qual denuncia técnicas pesadas. "Podemos falar em repressão porque vemos inúmeros vídeos, que não passam nos meios de comunicação, e recebemos vídeos com coisas insustentáveis que acontecem em território francês, em que nem parece que vivemos em democracia", descreve Frédéric Mestdjian.
Os principais líderes do movimento apelam "toda a França" a manifestar em Paris como "ultimato" ao governo francês: "Para que a liberdade, igualdade e fraternidade triunfem do governo e dos dirigentes, dia 16 de março vamos organizar-nos e invadir Paris".
As autoridades dividem-se entre a manifestação dos Coletes Amarelos e a "Marcha do século" em defesa do meio ambiente, que toma como ponto de partida a praça da Ópera. A franja mais pacífica dos Coletes Amarelos prevê juntar-se a esta marcha para "evitar riscos" de "guerrilha" perto da avenida dos Campos Elísio.