Funeral do menino de dois anos decorreu este domingo. Autoridades espanholas investigam falta de licenciamento e autorização para abrir o poço que foi fatal a Julen.
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Centenas de pessoas encheram este domingo a entrada do cemitério de San Juan, no bairro malaguenho de El Palo, para se despedirem de Julen, o menino de dois anos que morreu após a queda num poço há duas semanas em Totalán.
"Descanse em paz" era a frase da coroa de flores da Brigada de Salvamento Mineiro que recuperou o corpo de Julen, uma das dezenas de coroas e ramos que chegaram de vários pontos de Espanha.
José Roselló e Victoria García, pais de Julen, familiares, amigos, vizinhos e responsáveis de várias entidades acompanharam a urna desde a casa mortuária - onde foi feita uma última oração em privado - até ao cemitério de ruas estreitas com campas que pareciam um mar de flores brancas.
Julen repousa num nicho por cima do seu irmão Oliver, que faleceu há pouco tempo também com poucos anos.
Uma equipa de psicólogos esteve presente em todos os momentos para acompanhar a família na dor, durante o resgate de Julen e no cemitério.
Algumas meninas foram até ao cemitério de flor na mão. Várias entidades como associações de mulheres e irmandades da Virgen del Carmen, patrona do mar, enviaram também flores, bem como os municípios de Málaga e Totalán e a Brigada de Salvamento Mineiro enviada das Astúrias para escavar manualmente uma galeria até chegar a Julen.
A família solicitou expressamente que esta coroa, juntamente com a sua, fosse colocada em primeiro lugar no nicho.
Os restos mortais de Julen chegaram à casa mortuária no sábado à tarde, provenientes do Instituto de Medicina Legal de Málaga, onde foi autopsiado algumas horas depois de ser resgatado sem vida, às 1h25m do mesmo dia.
A morte causou grande comoção na comunidade local e o difícil resgate complicado teve um amplo eco internacional.
Julen, que os vizinhos recordam como o menino que se passeava num triciclo de pedais verdes pelas estreitas ruas pedonais do bairro, ficará para sempre perto da sua gente, numa zona onde é tradição visitar com frequência os entes queridos no cemitério.
Morte terá sido imediata
A autópsia realizada pelo Instituto espanhol de Medicina Legal aponta, segundo vários meios de comunicação espanhóis, para um cenário em que Julen terá morrido ainda durante a queda. A criança apresentava vários traumatismos que terão sido fruto do impacto nas paredes do poço para onde caiu. Julen foi encontrado a 71 metros de profundidade, com os braços elevados - um ato que terá sido reflexo por ter caído de pé.
Autoridades vão investigar furo
O ministro espanhol do Interior, Fernando Grande-Marlaska, já tinha anunciado aquando da descoberta da localização de Julen que se iniciariam investigações no imediato. O poço com 110 metros de profundidade - cheio de detritos até aos 71 metros - e aproximadamente 25 centímetros de diâmetro no qual a criança caiu não tinha qualquer licença municipal. Entretanto, já foi preenchido por completo.
Durante as operações, a equipa de resgate deparou-se com um tampão de terra que obrigou à perfuração de um túnel paralelo àquele em que Julen tinha caído. Embora ainda não exista uma explicação oficial para a existência deste tampão, a teoria principal é a de que terá sido originado pela queda da própria criança e era composto por detritos que se soltaram das paredes arenosas do poço.
Grande-Marlaska entende que não existem, de momento, elementos suficientes para determinar se existiu, ou não, negligência de alguma das partes. A juíza do 9.º Tribunal de Instrução de Málaga já ordenou a abertura de uma investigação e ouviu depoimentos dos pais, do dono do terreno e da pessoa que perfurou o túnel, tendo realizado uma série de obras ilegais. A investigação procura saber se estes tinham conhecimento de que o poço estava mal fechado e que representava um risco para a criança e todas as outras pessoas que participavam naquele almoço de família, organizado pelo dono do terreno - o namorado da prima do pai de Julen.
As autoridades querem averiguar se pode estar em causa um crime de homicídio por negligência, punível com uma pena entre um a quatro anos de prisão.
De acordo com o jornal El Mundo, a juíza responsável pelo caso, María Elena Sancho, já tem em mãos um relatório detalhado do Serviço de Proteção da Natureza da Guarda Civil espanhola e relatórios da Polícia Judiciária de Vélez-Málaga, que comprovam que tanto o poço aberto a 18 de dezembro, como as obras que foram realizadas nos dias anteriores à queda de Julen, não tinha sido autorizadas pela Junta da Andaluzia ou pela cidade de Totalán.
Confirmado está já que não foram tomadas quaisquer medidas de segurança para evitar possíveis acidentes, durante o almoço de família.
Nas declarações feitas à Guarda Civil, tanto o proprietário como o responsável pela prospeção responsabilizaram-se mutuamente pela falta de autorizações. "O responsável por perfurar o poço disse-nos que o dono do terreno lhe dissera que tinha todas as licenças. E o David [dono do terreno] disse que a pessoa que perfurou o poço lhe dissera que estava tudo em ordem", adiantou um agente da guarda, em declarações ao El Mundo.
Às possíveis responsabilidades criminais por negligência, há ainda que juntar a responsabilidade civil: o que significa uma compensação financeira pelos danos causados à família de Julen, se esta a vier a reivindicar. O valor dependerá do montante estabelecida pelo seguro por morte de um familiar direto. Também o Procurador-Geral do Estado espanhol pode ainda reclamar os custos das operações do resgate a Julen, que de acordo com fontes próximas do caso, terão sido na ordem dos dois milhões de euros.
Notícia atualizada às 9h13 de 28 de janeiro de 2019