O estilo clássico de um monovarietal da casta Alvarinho continua bem presente no Soalheiro. A colheita de 2024 comprova esse estatuto de qualidade
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Remonta a 1982 o primeiro vinho elaborado pela família Cerdeira na sub-região de Monção e Melgaço. No concelho mais setentrional de Portugal, nasceu a marca Soalheiro, assente numa bem sucedida viticultura familiar e em apostas de caráter inovador, sem perda de identidade, comprovando que o mundo do vinho não é de modo algum estático,
A matriz que lançou com sucesso a primeira marca de Alvarinho em Melgaço manteve-se imutável, algo que o Clássico 2024 sublinha com as notas mais caraterísticas: frescura aromática, sabor intenso e potencial de guarda.
A acidez equilibrada e as notas tropicais ajudam a definir este Alvarinho, ideal para acompanhar peixe, marisco, carnes brancas e pratos das cozinhas asiática e mediterrânica.
O potencial de envelhecimento em garrafa é outra das qualidades marcantes do Soalheiro Clássico: a colheita de 2017 revelou invejável frescura e acidez, a par de uma vivacidade de sublinhar.
Sete anos volvidos, escreveu-se mais um capítulo da história renovada a cada vindima: em 2024, o outono e o inverno foram bastante chuvosos; agosto revelou-se o mais seco dos últimos cinco anos.
O microclima da sub-região proporcionou uma maturação, que beneficiou de relevantes amplitudes térmicas e deu origem a vinhos surpreendentes, de acordo com a enóloga do Soalheiro, Asun Carballo.
As uvas foram vindimadas à mão. Após a prensagem e antes da fermentação, o mosto foi clarificado a baixa temperatura. Seguiu-se a fermentação em inox e o estágio em contacto com as borras finas antes do engarrafamento.
Na linha da frente da certificação de sustentabilidade
O Soalheiro recebeu, no passado mês de dezembro, a certificação de sustentabilidade vitivinícola, tendo sido o primeiro produtor a obter tal estatuto na sub-região de Monção e Melgaço
Trata-se da mais importante certificação nacional no setor vitivinícola, o que para Maria João Cerdeira, gestora do Soalheiro, “é o reconhecimento de um trabalho que começou na vinha e na garagem da família e se foi alargando a muitas outras famílias”.
Para aquela responsável, “a estratégia de sustentabilidade do Soalheiro existe desde sempre, muito antes da palavra estar em voga. O envolvimento com a comunidade faz parte da nossa identidade, assim como a vontade de proteger e valorizar a singularidade deste território de onde não queremos sair".
Clube de Viticultores agrega 200 famílias
O Clube de Viticultores do Soalheiro reúne cerca de 200 famílias, o que equivale a muitas mais parcelas de Alvarinho com história e características únicas - idade das videiras, altitude, tipo de solo, exposição solar – o que torna as vindimas num processo algo complexo. O ponto de partida de um trabalho minucioso, são centenas de controlos de maturação, o que obriga a uma marcação de vindimas diferenciada, respeitando a diversidade das vinhas e encaminhando-as para vinificações e recipientes distintos. Desse modo, é possível cumprir na adega o objetivo de criar vinhos que reflitam a diversidade do território de forma cada vez mais precisa.
Menos vidro e cartão
Nesse sentido, a estratégia de sustentabilidade do Soalheiro tem dado origem a vários projetos nos últimos anos, de que é exemplo a diminuição de peso nas embalagens, processo em que a marca foi pioneira em 2020 no território.
A redução em mais de 19 por cento do vidro utilizado nas garrafas e em mais de 39 por cento o cartão utilizado nas caixas, bem como nas emissões no transporte, “tem um impacto económico direto, que integramos na cadeia de valor, contribuindo, por exemplo, para a valorização da uva Alvarinho”, sublinha Maria João Cerdeira.
Deste modo, o Soalheiro continua empenhado na valorização da viticultura familiar num território de minifúndio, o que constitui para muitas famílias um rendimento complementar.
