A Quinta das Arcas, em Sobrado (Valongo), com 40 anos de história, manteve a tradição de lançar o primeiro vinho novo: o Primoris, um monovarietal produzido com uvas da casta Vinhão
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Em tempo de celebração do S. Martinho, é tempo de ir à adega e provar o vinho, glosando o rifão popular. Mas, na Quinta das Arcas, na região dos Vinhos Verdes, a tradição tem sido levada a preceito e, nos últimos 15 anos, o Primoris materializa na tradicional malga ou no copo esse momento único de convivial celebração.
Para trás, ao longo de vários meses, ficou um cuidado trabalho de viticultura em ‘modo prodi’ (produção integrada), no caso do Vinhão, na Quinta de Vilares, em Galegos (Penafiel), a 400 metros de altitude.
Na vinha, com uma área de 10 hectares, as uvas foram escolhidas por intuição e colhidas à mão. Após o desengace total para melhor extração dos aromas varietais, seguiu-se a pisa a pé, em lagar de inox, para controlo da temperatura, sem fermentação malolática, nem adição de sulfitos, consequência de um ano muito regular.
O Primoris 2024 é um vinho tradicional e perfil moderno: cor rubi, com forte concentração, acidez bem marcada, frescura e aromas de ameixa e frutos silvestres. Um vinho nada adstringente e muito ‘redondo’, sem resquícios de rusticidade, muito embora ideal para harmonizar com uma cabidela, feijoada ou sardinhas assadas.
O objetivo de lançar no mercado, em antecipação, um vinho que traduzisse uma versão ao mesmo tempo moderna e rústica foi, de novo, alcançado com êxito. Para tal, tornou-se necessário aliar a técnica do trabalho com a casta, na vinha e na adega, missão superada com êxito pelos enólogos Fernando Machado e Henrique Lopes.
No portefólio da Quinta das Arcas destacam-se as marcas Arca Nova e Conde Vilar e o espumante, um 100% Arinto, produzido em modo bio certificado na Quinta de S. Simão, em Refoios (Santo Tirso).
O ‘dégorgement’ deste espumante, com bolha muito fina e final suave e longo, foi feito após 18 meses de estágio em garrafa.
O Quinta da Arcas Alvarinho Reserva 2021, elaborado com uvas de uma parcela localizada numa encosta do rio Ferreira, estagiou em barricas de carvalho francês durante oito meses.
No nariz, apresenta notas cítricas; na boca, evidencia uma estrutura forte e volumosa, com uma excelente acidez.
O licoroso alentejano Conde d'Orada e a aguardente vínica velha Conde Villar também integram as referências da Quinta das Arcas.
A responsabilidade social de uma empresa em crescimento
Com três milhões de garrafas produzidas por ano, a Quinta das Arcas tem vindo a crescer de modo sustentado, exporta 40% da produção – Estados Unidos é o maior mercado --, e tudo aponta para que atinja, este ano, uma faturação da ordem dos 12 milhões de euros.
A concretizar-se este montante, será o melhor ano de sempre da empresa, que se afirma como valioso empregador na freguesia valonguense de Sobrado,
Por vontade expressa da administração liderada por António Esteves Monteiro, apesar da aquisição de duas máquinas para efetuar as vindimas, há vinhas onde a mecanização não entra, mantendo-se o trabalho manual como forma de proporcionar emprego, em particular a antigos trabalhadores da CIFA, uma unidade industrial de grande peso na região, que fechou portas há décadas.
Recuperação de velhas castas: o Alvarinho Rosa e a Cascal
Com 250 hectares de vinhas próprias na região dos Vinhos Verdes, distribuídas por três quintas vizinhas – Arcas; Costa (com 20 hectares de Alvarinho em exclusivo) e Gandra (a maior extensão de vinha contínua da região, com 80 hectares – a empresa familiar dirigida por António Esteves Monteiro e com segunda geração fortemente empenhada na continuidade do projeto, também é proprietária da Herdade Penedo Gordo, em Borba (Alentejo) com uma área de 180 hectares.
Nos Vinhos Verdes, está em curso um louvável trabalho de recuperação de castas que caíram em desuso ou estão, praticamente, esquecidas. Fernando Machado, enólogo e responsável pela silvicultura, não esconde a paixão pelo trabalho nas vinhas e o desafio que representou, com o apoio de organismos oficiais, o Alvarinho Rosa, que sofrera uma mutação em Vila Praia de Âncora e cuja genética se perdera.
A Malvasia Doce, muito resistente à podridão; a Cascal, outrora presente nos quinteiros cobertos das casas senhoriais de Felgueiras e a Douradinha são outras castas em fase de recuperação. Na Quinta das Arcas, um segredo quase escondido às portas do Porto.
