O enoturismo é forte aposta da Quinta da Vacaria, onde a produção de vinho e de azeite entrou em novo ciclo. Um hotel de luxo e a Casa da Vinha são pilares do projeto na região do Douro
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A Quinta da Vacaria, a curta distância de Peso da Régua, perto da foz do rio Corgo, é uma das propriedades mais antigas referenciadas na região do Douro, com registos datados de 1613, quando foi adquirida por Gaspar de Sousa, governador geral do Brasil.
Três anos volvidos, passou para a posse da Companhia de Jesus e hoje afirma-se como um esplendoroso rincão onde a produção de vinho, de azeite e o bem-estar oferecido por uma unidade hoteleira de excelência são vetores fulcrais de um dos mais recentes enoturismos do Douro.
A osmótica ligação entre tradição e inovação foi muito bem conseguida em termos arquitetónicos, com o enquadramento da moderna adega nas vinhas, que ocupam uma área de 42 hectares, plantadas em socalcos entre os 50 e os 300 metros de altitude.
Na adega, que opera por gravidade, destacam-se os lagares em granito para a produção de vinho do Porto e, noutro âmbito, o robô, cuja ação ajuda a colmatar a falta de mão de obra.
A localização do projetado restaurante permitirá uma panorâmica atraente da adega.
A sala de provas, em plano elevado, o que permite visão privilegiada do armazém onde repousam as barricas, e o espaço e
‘vintage’, com um cofre onde estão guardados os vinhos do Porto com 20, 40, 80 e mais de um século e um balseiro com capacidade para 20 mil litros restaurado, são pontos-chave do moderno complexo.
Referência à adega antiga, destinada em exclusivo para o vinho do Porto.
Novas referências em breve
O investimento na recuperação e reconversão das vinhas permitiu, em 2015, o renascimento da marca, tendo os novos vinhos sido colocados no mercado no ano seguinte.
Entretanto, está previsto, no primeiro trimestre de 2025, o lançamento de novas referências de brancos e rosés – o espumante chegará lá mais para o final do ano - para ampliar o portefólio existente, em que figura o Duas Margens Reserva Branco 2022, elaborado com uvas das castas Viosinho, Rabigato e Arinto provenientes de vinhas com mais de 20 anos.
No nariz, apresenta notas cítricas, com ligeiros aromas a madeira nova e baunilha. Na boca, é concentrado e fresco, com uma acidez muito equilibrada e um final longo e persistente. Um branco de qualidade, com volume e untuosidade, do qual foram produzidos 15 mil litros.
Dois tintos monovarietais ampliam o portefólio da Quinta da Vacaria: Touriga Franca 2019, produzido com uvas de vinhas com mais de 35 anos, estagiou 14 a 16 meses em barricas de carvalho francês. Apresenta cor rubi intensa, muita fruta preta no nariz e notas de baunilha. Compacto e concentrado na boca, com taninos firme, tem um final prolongado.
O Quinta da Vacaria Touriga Nacional 2019 revela equilíbrio entre as notas de fruta madura e uma boa acidez. Tem um final longo.
Foram produzidas 2 900 garrafas numeradas. A aposta em formatos de maiores dimensões -- 3, 5, 12, 15 litros – é uma forma deste produtor diversificar a oferta, que também contempla o Vicious Alvarinho, produzido na sub-região de Monção e Melgaço, em garrafa de formato ‘magnum’, e fruto de uma parceria.
Uma referência para o Porto Vintage 2016, elaborado com uvas de vinhas velhas, logo com menor produção de Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinta Barroca e Tinta Roriz.
Após a pisa a pé, sofreu breve fermentação, seguindo-se dois anos de estágio. Engarrafado sem filtração, pode criar depósito.
Este Vinho do Porto revela grande intensidade aromática, notas de fruta preta madura; na boca, é muito equilibrado e tem um final intenso e longo.
Azeite em destaque
Com as azeitonas do olival em bordadura, que ocupa uma área na ordem dos 30 a 40 hectares, a Quinta da Vacaria produz azeites de qualidade com três referência: Olival da Cobiça, uma designação curiosa, uma vez que na gíria popular a azeitona do vizinho é sempre melhor, elaborado com as variedades cobrançosa e verdeal; Olival do Feitor, mais doce e menos picante produzido com galega, e Premium, mais complexo e com boa estrutura. Comum a todos: o excelente sabor, com notas diversas.
Uma redoma de conforto
Contar a história da região é um dos objetivos do grupo Torel Boutiques, que explora o hotel Quinta da Vacaria, uma unidade de luxo onde o conforto assume grau de excelência.
Com 33 quartos de nove categorias diferentes, um spa com 1 000 metros quadrados, piscina exterior de infinito, uma icónica ala do xisto e três espaços de restauração, o hotel é um reduto de tranquilidade e bem-estar.
O restaurante 16 Legoas, de acordo com a ortografia da época expressa em documento que referia ser aquela a distância entre a quinta e a cidade do Porto, é de matriz mais informal e tradicional.
Em breve, o Schistó, liderado pelo chefe Vítor Gomes com consultoria do estrelado chefe Vítor Matos, um espaço com cozinha aberta, tem o ‘fine dining’ e os menus de degustação no cartão de apresentação.
No bar Barbus, nome que é uma alusão ao peixe de rio, é possível saborear refeições mais ligeiras.
Um miradouro suspenso
Em termos de enoturismo, destacam-se as provas de vinho, que podem decorrer na loja ou ter como cenário a espetacular Casa da Vinha, uma estrutura de ferro e vidro construída no topo dos socalcos, a 300 metros de altitude.
Lá do alto, o olhar abarca magnífica panorâmica, com o rio Douro lá ao fundo, as pontes da Régua, o casario disforme da cidade a jusante e as vinhas em visão 360 graus.
Um sítio fantástico, arrebatador, ideal para fazer pausa numa caminhada e saborear um almoço previamente reservado naquele autêntico miradouro suspenso, verdadeira cereja no topo de um bolo de grande qualidade.
