A Rota Turística Literária Viagem do Elefante, traçada de acordo com a obra de José Saramago, foi percorrida graças a nova iniciativa do Clube Escape Livre, que levou aos territórios do Côa, por todo-o-terreno, uma vasta caravana
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Com várias novidades e um percurso desenhado para a fruição das incontáveis maravilhas que o despovoado interior de Portugal oferece, a 3.º edição do Off Road Bridgestone/First Stop Caminho de Salomão seguiu por fora de estrada, parcialmente, o Caminho de Salomão, o elefante protagonista da viagem de Lisboa até Áustria no reinado de D. João III, descrita por José Saramago.
A obra do Prémio Nobel levou a Associação Territórios do Côa a criar uma Rota Turística Literária, ao longo da qual é possível preencher um passaporte digital nos principais pontos do percurso e desse modo tornar-se embaixador daquele percurso.
O Clube Escape Livre traçou com proverbial mestria um traçado harmonioso, conjugando setores com várias tipologias de dificuldades, desde os percursos mais rolantes, estradões de acesso a eólicas até ao apoteótico derradeiro corta-fogo em final de festa na serra da Marofa, um clássico destas andanças.
Sem vestirmos a pele de Gonçalo Anes, o profético Bandarra, famoso sapateiro de Trancoso que chegou a trabalhar na corte lisboeta, augurámos, na hora do arranque, mais um êxito – o que veio a confirmar-se na plenitude - do clube da Guarda, desde há largos anos exemplar na conceção e organização deste tipo de iniciativas. Nada é deixado ao caso, das visitas guiadas a museus, centros históricos e monumentos, à gastronomia regional e, fator
relevante, à segurança da caravana, neste caso, de mais de três dezenas e meia de veículos. As comunicações internas via rádio, a marcação do percurso e o bem elaborado ‘road-book’ fazem, de facto, a diferença. Uma fartura de virtudes, espelhada no ‘histórico’ pormenor das pausas junto à rulote, que há muito assinala as saborosas pausas nos percursos de uma beleza ímpar traçados pela equipa coesa, simpática, eficaz e de grande disponibilidade dirigida por Luís Celínio, verdadeiro maestro de uma orquestra afinada.
Do Fundão com alma até Almeida
À laia de retemperador estágio para a dureza (teórica…) dos dias seguintes, no Golden Rock Spa do Alambique Hotel Resort, um complexo magnânimo pela dimensão e máxima qualidade, localizado no Fundão, o físico ficou nas melhores condições para enfrentar os trilhos até terras de Riba Côa.
Em plena Cova da Beira, as boas sensações foram como as cerejas: uma sucessão de bons momentos, desde a visita guiada a Castelo Novo ao pantagruélico jantar.
Com o manto diáfano de ténue neblina a abrir, deixando ver o verdejante vale, emoldurado pela serra da Estrela, que se estendia até Covilhã, o percurso inicial levou a caravana até Belmonte. Na vila recheada de história, tão antiga como a nacionalidade, onde nasceu Pedro Álvares Cabral, o castelo e o Museu dos Descobrimentos merecem visita. Outro espaço museológico, único em Portugal, o Museu Judaico, retrata a presença sefardita no nosso país.
A visita guiada a Sortelha, uma das mais conhecidas e bonitas Aldeias Históricas, com as casas tipicamente beirãs construídas em granito numa elevação onde se ergue o castelo, a 786 metros de altitude, antecedeu a passagem pelo Sabugal, na orla da Reserva Natural da serra da Malcata.
O castelo, reforçado pro D. Dinis após o Tratado de Alcanizes (1297), descampou no horizonte quando o Suzuki S-Cross, espaçoso e muito confortável, seguiu o estreito trilho ao lado do Côa, namoriscando o rio que corre através de um bosque denso e refrescante. Um cenário magnífico, iluminado a espaços por um Sol esplendoroso, que banhava as termas do Cró.
A tarde avançava e, Ó da Guarda, que se faz tarde! O centro histórico da cidade mais alta – 1056 metros – esperava pela comitiva para a visita noturna encenada pelo grupo Hereditas.
Com alma até Almeida, superando dificuldades de um percurso exigente, alcançou-se a histórica vila, praça-forte de grande importância, cujo papel na defesa do território é recordada no museu que ocupa as casamatas. O Picadeiro d’El Rey; a Casa da Roda dos Expostos e o antigo quartel de artilharia e cadeia (hoje Câmara Municipal) destacam-se na vila com um perímetro abaluartado em forma de estrela de 12 pontos, casas brasonadas e judaicas.
Por terras de Riba Côa
A variedade de percursos, ora sinuosos, estreitos e pedregosos, ora rápidos e rolantes; ora ‘trialeiros’ evidenciou a facilidade de condução oferecida pelo versátil Suzuki S-Cross, colocou à prova toda gama de atributos do SUV da marca nipónica, dotado da tecnologia 4WD All Grip.
A exigente descida ‘trialeira’, reflexo das fortes chuvadas, até à ponte sobe o rio Côa, na ligação para a histórica Trancoso, elevou os níveis de adrenalina e colocou à prova a perícia dos condutores.
O antídoto retemperador o licor de figo da Índia servido na Mercearia do Fradinho, após a visita à urbe antiquíssima, onde casaram D. Dinis e Isabel de Aragão, mais tarde Rainha Santa.
A derradeira etapa desenrolou-se através dos vinhedos que se estendem da Mêda até Longroiva, ao longo do planalto onde a Beira se despede e o Douro dá as boas-vindas.
A paisagem é de enorme beleza no trajeto até Cidadelhe, a aldeia de casas alpendradas construídas em granito. Ali, o ‘ex libris’ é o famoso pálio de 1707, em veludo carmesim bordado a seda e lantejoulas, guardado a sete chaves na casa-forte.
"Ir a Cidadelhe e não ver o pálio, é como ir a Roma e não ver o Papa", escreveu José Saramago na ‘Viagem a Portugal’.
O nosso périplo continuou pelos Territórios do Côa até Castelo Rodrigo, a Aldeia Histórica distinguida no plano internacional, ponto final do Caminho de Salomão.
"Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam", escreveu Saramago e, em boa verdade, a fidalga receção em Figueira de Castelo Rodrigo culminou o Caminho de Salomão este ano percorrido com o Escape Livre, através de um Portugal onde grande parte da nossa História foi escrita e ficou perpetuada no património monumental. Aldeias e vilas históricas preservadas, paisagens de encantar, gastronomia rica em sabores e diversidade, produtos locais de qualidade num território onde o despovoamento é uma triste realidade. É tempo de o país olhar para o interior, promovido há muitos anos pelo Clube Escape Livre através deste tipo de iniciativas.
