Já se conhece o guião mais esperado da alta cozinha. Saiba quais são os restaurantes e os cozinheiros premiados no "livro vermelho". Portugal perdeu três estrelas.
Corpo do artigo
O dia chegou. Vinte de novembro marca a atribuição das estrelas Michelin a restaurantes espalhados pelo mundo. Aqueles que são os "Óscares da gastronomia" foram anunciados em Sevilha, Espanha. E, para muitos, o céu é o limite. O restaurante "Casa de Chá da Boa Nova" (Leça da Palmeira, chef Rui Paula) ganhou esta quarta-feira a segunda estrela do Guia Michelin Espanha e Portugal 2020, que atribuiu a primeira estrela a quatro estabelecimentos portugueses e retirou a outros três.
"Em Portugal, para nossa alegria, também estamos satisfeitos por entregar uma segunda estrela Michelin ao restaurante Casa de Chá da Boa Nova, de Leça da Palmeira, uma vez que cativou os inspetores tanto pela selvagem singularidade do estabelecimento [um edifício do arquiteto português Siza Vieira], sobre as rochas da Praia da Boa Nova, como pela intensidade da proposta do chef luso Rui Paula", lê-se no comunicado divulgado esta quarta-feira à noite durante a cerimónia de apresentação da edição do próximo ano do Guia Michelin ibérico, a decorrer esta noite em Sevilha, Espanha.
11524522
O chef Rui Paula, que alcança agora a segunda estrela (cozinha excecional, vale a pena o desvio), "joga com a memória, as técnicas mais atuais e a cozinha de proximidade para transferir para os seus pratos o autêntico sabor do Atlântico", consideraram os inspetores do guia ibérico.
Além disso, os restaurantes "Epur" (Lisboa, 'chef' Vincent Farges), "Fifty Seconds by Martín Berasategui" (Lisboa, 'chef' Filipe Carvalho), "Mesa de Lemos" (Viseu, chef Diogo Rocha) e "Vistas" (Vila Nova de Cacela, chef Rui Silvestre) são as novidades na primeira categoria (cozinha de grande nível, compensa parar) do Guia Michelin ibérico.
Por outro lado, três restaurantes portugueses perdem em 2020 a estrela que detinham: "L'And Vineyards" (Montemor-o-Novo, chef José Miguel Tapadejo, após a saída de Miguel Laffan), Willie's (Vilamoura, chef Willie Wurguer) e "Henrique Leis" (Almancil, chef Henrique Leis) - que em julho foi o primeiro chef em Portugal a anunciar que queria abdicar da estrela, que detinha há 19 anos.
11525770
O guia vermelho, equiparado aos Óscares da gastronomia, continua a não atribuir nenhuma classificação máxima a Portugal (três estrelas, uma cozinha única, justifica a viagem). No total, Portugal sobe para sete o número de restaurantes com duas estrelas e mantém 20 estabelecimentos com uma estrela.
Na edição do próximo ano, há seis novos restaurantes portugueses com a categoria Bib Gourmand (boa relação qualidade/preço): "Casa Chef Victor Felisberto" (Abrantes), "Solar do Bacalhau" (Coimbra), "La Babachris" (Guimarães), "Saraiva's" (Lisboa), "In Diferente" (Porto) e "Ó Balcão" (Santarém).
A gala de apresentação do Guia Michelin Espanha e Portugal 2020 decorre esta quarta-feira à noite em Sevilha, marcando também os 110 anos do lançamento do guia ibérico. Na nota de imprensa divulgada durante a cerimónia, o diretor internacional dos guias Michelin, Gwendal Poullennec, afirmou que se assiste atualmente a "uma consolidação da alta cozinha" em ambos os países.
11477122
Quanto às tendências, o responsável destacou que os hotéis dão "cada vez maior valor estratégico às suas propostas gastronómicas", mas também o facto de "muitos chefs estarem a optar pela cozinha criativa de fusão, incorporando nos seus menus detalhes exóticos e ingredientes próprios do receituário peruano, mexicano ou nipónico".
Além disso, acrescentou Poullennec, "é muito gratificante ver como Espanha e Portugal participam nas tendências culinárias globais e vão dando maior protagonismo aos alimentos fermentados, aos menus vegetarianos, aos produtos km 0, à sustentabilidade e à incipiente reciclagem".
"O nível gastronómico destes dois países continua no auge e a criatividade dos seus chefs demonstra uma constante ebulição", comentou.
Nenhuma entidade oficial representou Portugal durante a gala desta noite.
As estrelas têm nome de marca de pneus, por culpa de Albert e Édouard Michelin. Os irmãos lançaram a empresa de pneus em 1889, e um ano depois decidiram criar o guia turístico com um objetivo claro: fazer com que os seus clientes percorressem um maior número de quilómetros.
O "pequeno livro vermelho", onde está inserido o guia, auxiliava os condutores que faziam a sua vida na estrada. Ora, nos dias de hoje, não só a marca de pneus é uma das mais conceituadas no ramo, assim como (quase) todos os cozinheiros sonham com a galardoada estrela.
No máximo são atribuídas três estrelas a cada restaurante. Uma estrela corresponde a um "restaurante muito bom", duas a uma "excelente cozinha", e o prémio máximo, três estrelas, são sinónimo de uma "cozinha excecional".
Para quem não é premiado com as estrelas, nem tudo está perdido. O guia faz ainda uma distinção dos restaurantes com melhor qualidade/preço. Já em relação aos critérios, são uma incógnita. Só os jurados têm conhecimento dos detalhes das classificações.
O francês Joël Robuchon, já falecido, é o cozinheiro que conta com mais estrelas Michelin: são 32 no total. No segundo lugar do pódio está outro francês, Alain Ducasse, com 22 estrelas. O britânico Gordon Ramsey, conhecido pelos seus programas televisivos, já recolheu 17 distinções.
Em Portugal são vários os restaurantes galardoados, embora durante vários anos a cozinha portuguesa tenha sido "esquecida" pelos jurados. Atualmente, o país de Camões conta com 20 estrelas "solitárias", e seis restaurantes com duas estrelas.
Esta é a lista dos restaurantes portugueses distinguidos pelo Guia Michelin em 2020:
Uma estrela:
A Cozinha (Guimarães, chef António Loureiro)
Antiqvvm (Porto, chef Vítor Matos)
Bon Bon (Carvoeiro, chef Louis Anjos)
Eleven (Lisboa, chef Joachim Koerper)
Epur (Lisboa, chef Vincent Farges) - novidade
Feitoria (Lisboa, chef João Rodrigues)
Fifty Seconds by Martín Berasategui (Lisboa, chef Filipe Carvalho) - novidade
Fortaleza do Guincho (Cascais, chef Gil Fernandes)
G Pousada (Bragança, chef Óscar Gonçalves)
Gusto by Heinz Beck (Almancil, chef Libório Buonocore, após a saída de Daniele Pirillo)
LAB by Sergi Arola (Sintra, chef Sergi Arola e Vlademir Veiga)
Largo do Paço (Amarante, chef Tiago Bonito)
Loco (Lisboa, chef Alexandre Silva)
Mesa de Lemos (Viseu, chef Diogo Rocha) -- novidade
Midori (Sintra, chef Pedro Almeida)
Pedro Lemos (Porto, chef Pedro Lemos)
São Gabriel (Almancil, chef Leonel Pereira)
Vista (Portimão, chef João Oliveira)
Vistas (Vila Nova de Cacela, chef Rui Silvestre) - novidade
William (Funchal, chefs Luís Pestana e Joachim Koerper)
Duas estrelas:
Alma (Lisboa, chef Henrique Sá Pessoa)
Belcanto (Lisboa, chef José Avillez)
Casa de Chá da Boa Nova (Leça da Palmeira, chef Rui Paula) -- novidade
Il Gallo d'Oro (Funchal, chef Benoît Sinthon)
Ocean (Alporchinhos, chef Hans Neuner)
The Yeatman (Vila Nova de Gaia, chef Ricardo Costa)
Vila Joya (Albufeira, chef Dieter Koschina)