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Esta casa tem quase 40 anos. Foi fundada em 1989 e praticamente desde o início faz parte do imaginário do Porto. O magnético e sábio José António adota toda a gente que visita a casa com a mais afável paternidade. É lugar onde gostamos de nos perder. Entregamo-nos e deixamos acontecer. Como mandam os cânones mais populares, nas entradas temos já quase a refeição feita. Os bolinhos — pastéis para quem é do sul — de bacalhau abrem-nos o apetite mesmo quando não estamos de maré. A cozinha prepara pastéis de Chaves do maior requinte, crocantes e gostosos. Grelha-se morcela das Beiras, outro grande petisco nacional. Há alheira de caça transmontana grelhada como Deus manda. E as pataniscas de bacalhau são, como se deseja, fritura perfeita, muito sabor e poucos excessos de gordura.
Finda a empreitada entradeira, já nós estamos rendidos e felizes com o grande tratamento, mas é então que tudo começa. Por exemplo, com uma canja de galinha caseira, caldo bem rico e apaladado. Ou papas de sarrabulho, que aqui são abençoadas. Temos vários pratos de bacalhau, aqui escolho dois: o mais sublime de todos, que é o Gomes de Sá, ou o bacalhau à Brás, que temos por fácil, mas raramente é bem feito. Os filetes de pescada com arroz de polvo são divinos e fresquíssimos, e os filetes de polvo com arroz do mesmo não lhe ficam atrás. A vitela assada em forno a lenha é maravilhosa e configura delícia que não se consegue parar de comer. O arroz de pato desta cozinha é cheio de nuances e gulodices e é armadilha eficaz para seduzir um português. O cozido à portuguesa é farto e sápido, como convém, e o caldo é ouro puro, depurado por etapas das cozeduras das diversas peças e legumes. As tripas à moda do Porto são fantásticas e é aqui que devemos comê-las. Os rojões à minhota produzem aquele efeito de fazer vir as lágrimas aos olhos, pela surpresa sistemática de parecer a primeira vez. Por encomenda, há cabrito assado em forno a lenha, meio ou inteiro. Grandes vinhos tem a casa, a escolha é vasta e o conselho de José António é de atender.
A sobremesa excelsa são as rabanadas da Avó Piedade, feitas no céu, com passas e frutos secos. O bolo de bolacha é como a gente gosta e sabe sempre bem. Há uma tarte de amêndoa que clama por atenção e puxa pela gula. E o toucinho do céu pede vagar e vinho à altura. Estamos num dos monumentos mais importantes da portugalidade e deixamo-nos ficar, até chegar a hora da próxima refeição.