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Este templo gastronómico único fica perto do centro da cidade dos templários. Fátima e Francisco Antunes governam uma casa magnética, ela na cozinha, ele na sala, com o filho Francisco a oficiar em todas as frentes. Se visitar agora, prepare-se para dar com lampreias de boca colada às paredes da pequena pérgola que fica à entrada. Estamos na altura delas e aqui saem imaculadas dos fogões da imaculada cozinha. Faz-se estufada em vinho ou na forma de arroz de lampreia e vem gente de toda a parte para vir aqui deliciar-se com a forma e jeito que a nossa chef Fátima lhes dá.
Francamente divido-me entre a lampreia e as cilerca - ou silarcas - com ovos. Só há nesta altura do ano e até parece conspiração com a lampreia, mas uma a seguir à outra já se fica muito bem. Mas vejamos o que perdemos se nos ficamos apenas por aqui.
A complementar a briosa preparação das já referidas cilercas, que são cogumelos da variedade amanitas ponderosa e são fungos perfeitos, temos muito por onde escolher. Há um estaladiço de caça que só se faz aqui, composto por javali, coelho, perdiz, pato e lebre. Privilégio do tempo da caça que não podemos perder de forma alguma.
Também não nos fazemos rogados perante umas fatias finas de presunto ibérico 5 Jotas. E provar a delícia que é a petinga no forno é imperativo de consciência para quem tem a ciência culinária como arte suprema. É preparada no forno e é abrilhantada por um caldo de antologia e pedaços de belíssima broa de milho.
Além da lampreia, aconselho o sável frito com açorda, de que também corre por estes dias a época. Das mãos de fada da chef Fátima sai um bacalhau assado com cilercas que revela uma ligação não muito frequente entre o fiel e os cogumelos. E faz-se uma espetada do mar, composta por garoupa, polvo e camarão que conforta a acarinha a alma.
O cabrito assado no forno com arroz de miúdos não tem igual em parte alguma, é requintado e muito gostoso. Também se faz um magusto de carnes de cabrito, porco e vaca, que é excelente combinação com um bom tinto da copiosa garrafeira da casa.
Em termos de sobremesas, a Lúria é o local certo para provar as melhores fatias de Tomar, feitas num aparatoso, mas funcional aparelho e que apesar de parecerem fatias de pão de forma em calda de açúcar, são feitas apenas com ovo. Uma delícia digna de abade. Assim como a delícia de noz com ovos-moles, que configura perdição. Saímos adotados pela família Antunes, que tão bem sempre recebe todos, com a promessa de voltar muito em breve.