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O chef Luís Brito e a sua mulher Cláudia Abrantes, sommelière da casa, são a alma deste restaurante único. Instalado num aquartelamento altaneiro, de vista deslumbrante e particularmente inspiradora, é lugar de que nunca mais queremos sair. Seguimos o menu aconselhado e apercebemo-nos da excelente compleição intelectual do chef Brito e da sua grande estratégia para nos tornar mais felizes.
O cardápio assim organizado revela-se particularmente acertado, por configurar viagem de sensações e sabores, em jeito de descoberta. O início é algo inesperado, mas muito bem resolvido face ao nome do prato. Homenagem à Ilha da Madeira, gelado/milho/banana, autêntico salto tropical repleto de sabor e textura que faz o corte com o mundo exterior.
O segundo momento situa-nos aqui mesmo, na Ria Formosa, e a proposta é choco/arroz/limão verde, em jeito de hino. Segue-se o momento lavagante azul, que conta com a assessoria de tártaro de boi/cardamomo/óleo de abóbora, prato desafiante a propor com arrojo a interação mar-terra, como só Luís Brito sabe dominar.
Na proposta seguinte, peixe de linha, a trajetória é cavala fumada/caninha/umbilicus e entramos num certo exotismo, a que de forma alguma nos escusamos, dada a exploração de novas texturas.
O momento Angulata é que se segue e é claramente dedicado à ostra portuguesa, cujo nome científico é crassostrea angulata, que sugere cavidade rugosa. A ligação neste caso é feita pela combinação ostra da Ria Formosa/anchova/citrinos. Há que ir entrando na filosofia deste grande criador culinário para entender a elegância e eficácia das suas propostas. Isso fica muito claro no momento que se segue, Feito no Zambujal, evocação continental com presa de porco ibérico/espinafres/jus. Estamos no mundo da carne, brilhantemente proposto.
A presa é uma das peças mais exigentes do universo suíno e a delicadeza é a tónica deste prato. O último momento é História de Al-Andaluz e há uma sobremesa eminentemente cítrica, composta por mandarina/mirra/bela luisa. Marca o termo da refeição e, tal como disse no início, daqui nunca queremos sair. A menos que marquemos lugar para a próxima visita.