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Na empena que dá para o mar, há um passeio na Ericeira onde o melhor acontece. Leonel Carlos anima no seu Canastra diariamente os verdadeiros amantes da cozinha marítima. Conhecedor profundo de tudo o que vem do reino de Neptuno, domina na perfeição o receituário de pescador. Não há melhor local para o comprovar do que esta grande mesa, feita promontório frio e fresco. Há mesas interiores, mas mesmo quando chuvisca o que sabe bem é fazer uma refeição cá fora. Há mesas junto ao restaurante e transpondo a estreita estrada empedrada, estamos literalmente em cima do mar. É excelente forma de começar a mandar vir camarão al ajillo, matéria-prima de exceção e processamento a condizer. Altura perfeita para equacionar a hipótese de amêijoas à Bulhão Pato, feitas de forma canónica, concentração total na qualidade do produto. Sabe bem ser assim bem tratado. Nesta altura do ano, já temos sardinhas boas para emprestar às brasas, e uma ou duas já dá para sermos felizes, com uma fatia de bom pão de trigo. Saem boas cataplanas da cozinha, de peixe ou marisco, o grande bivalve de cobre consegue uma fusão única de sabores. Recomendo uma caldeirada à moda da casa, Leonel conhece o seu ofício e aqui serve-se apenas o melhor.
Perante este cenário, não custa imaginar que peixe e marisco são de truz aqui. As brasas vivas deste Canastra dão origem a despertares sublimes, que não podemos desperdiçar. Há que abrir um bom vinho branco para esperar pelo programado milagre oceânico que acontece à nossa mesa. Se puder, opte por peixes de bitolas maiores, por exemplo um robalo de dois quilos, dos outros há em toda a parte. A festa acontece naturalmente. Um pouco de cozinha de pescador pode ser francamente oportuno, o excelente pitéu de pata-roxa e tamboril é maravilhoso. Ou uma massada de robalo, delícia aprimorada pelo tempero aplicado. Também se faz excelente pargo no forno, que naturalmente recomendo. A época já passou, mas fica a recomendação do atum de barrica e da caneja de infundice. O primeiro é um atum conservado em salmoura forte em barrica de madeira, a segunda é o tubarãozinho curado enterrado na terra, depois reavivado e temperado com azeite. É mesmo muito bom. Prepare-se apenas para o cheiro intenso.
Há excelente mousse de chocolate no Canastra, pelo que a terminação doce está assegurada. É feita aqui em casa. Assim como a tarte de limão merengada, uma das melhores que provei. Ou o clássico tiramisu. Daqui saímos com um pé no paraíso.