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A Lebrinha, no centro de Serpa, é provavelmente a mais famosa cervejaria do país. Serve há décadas a imperial mais fria de todas, com artes de conseguir manter a temperatura baixa ao longo de mais tempo do que todas as outras. Nunca me dediquei a medir, mas é certo que os cuidados para garantir a frescura duradoura que nos conquista nas tórridas tardes e noites serpenses são muito bem vindos. No pico do verão, quaisquer cinquenta metros a pé configuram dura e penosa prova.
Somos atendidos com alegria e carinho neste templo de bem comer e rapidamente nos dedicamos ao muito que há aqui para explorar à mesa. Há moelas estufadas brilhantes e apaladadas, perfeitas para consumir a cerveja inaugural. Serve-se também um queijinho curado fatiado de que é impossível não gostar, e é nesta altura que passo para um bom vinho branco. Lamento, mas não sou fã de cerveja.
E faz-se uma saladinha de ovas que preenche bem os buraquinhos de fome com que nos apresentamos à chegada. A toada petisqueira não deve, contudo, impedir-nos de progredir para uma refeição cheia de trunfos. O polvo à lagareiro é maravilhoso, desde a cozedura até ao tempero, passando pelo banho de azeite, alho e coentros que contamos encontrar.
O bacalhau é de muito boa qualidade e temos três configurações ao nosso dispor. Bochechas de bacalhau, levemente escalfadas e copiosamente decoradas, satisfazem sempre. O bacalhau à casa, posta frita com batatas fritas às rodelas, transfigura-se em guloseima, a que fazemos sempre as honras. E o bacalhau à Brás é feito como a gente gosta, umas vezes sai mais cremoso do que outras, mas sabe sempre bem.
Os pratos de carne são tentações a que cedemos facilmente. Recomendo à cabeça a febra trinchada à Zé Lebrinha, um bife grande de porco aprimorado por alho, coentros frescos e picles que vem para a mesa em travessa. Resulta mesmo muito bem e apetece sempre. Fazem-se costeletas de borrego fritas ou grelhadas extraídas de bons cortes e se pedirmos vêm fininhas, como adoramos. São excelentes as migas com carne de porco, absolutamente deliciosas e francamente oportunas. E a carne de porco à alentejana é sempre proposta a considerar.
A garrafeira da casa serve bem os pratos que se preparam, nota-se um pouco que a cerveja é que domina. Para terminar docemente, a tarte de requeijão e o arroz-doce são ambos opções felizes. Não houve uma única vez que aqui tivesse vindo que não prometesse a mim próprio que voltaria em breve. Continuo com a mesma vontade.