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Estão quase a cumprir-se 80 anos desde o dia histórico em que a cozinheira minhota Fernanda Brites decidiu aqui, neste mesmo lugar de Vila Real, estabelecer-se com uma casa de pasto. Tinha então criado uma iguaria que viria a marcar profundamente a cozinha transmontana, as tripas aos molhos. Momento sacramental que rapidamente se difundiu por toda a província transmontana. Simples, como tudo o que é bom, mas genial. Trata-se de pequenos rolinhos de tripa e bucho enrolados em torno de pedaços de presunto e salsa, depois atados com a própria tripa.
José Carlos Rodrigues dos Santos é o atual timoneiro da mítica casa, que se tornou ponto de encontro de vinhateiros, políticos e académicos. Claro que há sempre tripas aos molhos e claro que há muito mais. Nas entradas, prepara-se um maravilhoso polvo laminado temperado com pimentão fumado, evocativo da preparação à galega. Faz-se um petisco bom de cogumelos salteados com vinho e alho. E há uma série de malgas ao nosso dispor, destaco as minhas duas favoritas, que são a de tripas e a de mãozinha. Pequenos exemplos feitos miniaturas da coisa real com que adoramos deliciar-nos.
Bacalhau grelhado com batata a murro e pimentos e polvo no forno com molho de alho, azeite e salsa dominam a oferta em termos de peixes. Nos pratos de carne encontramos tentações diversas, a que cedemos docilmente sem problema. Caso, por exemplo, do naco de vitela maronesa com alho e cogumelos salteados. As bochechas de porco estufadas em vinho tinto são muito tenras e gulosas. O sarapatel, inovação indo-portuguesa introduzida por José Carlos, é aqui espantosamente consensual. O vindalho de vitela com arroz de coco é outra maravilha saída da mente do criador de serviço. Liga muito bem com os vinhos que a casa apresenta e, além disso, cria-se uma atmosfera de descoberta que noutras partes da cidade não há.
As orientalidades agradam a José Carlos e a forma como as disponibiliza é brilhante. Está-se bem na sala e quase sempre dá para optar por uma mesa no exterior. Nos dias que têm sido frios nem conseguimos imaginar que no verão a canícula aperta impiedosamente.
Gosto muito do bolo de bolacha que aqui se faz, é a minha terminação doce de eleição no Chaxoila. E gosto muito que o sábio gestor promova dois doces típicos de Vila Real, o pito de Santa Luzia e a crista de galo, respetivamente com gelado de baunilha e gelado de tangerina. Tenho a certeza de que a chef Brites dos primórdios da casa está em festa.