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O D’Aurora é desde há muito um ícone incontornável da cozinha marítima e não só. Na verdade, é um grande restaurante, válido em todas as frentes. Ganhou espaço de esplanada renovado, pelo que só falta servir-nos com os pés banhados nas belíssimas águas da Praia da Cortegaça. Claro que a inspiração marítima dita o grosso do cardápio, mas aqui vem-se também pelo banho de cultura gastronómica que acontece. Amadeu Amaro Papa é a alma da casa e o seu oficiante anfitrião. Tem prazer em oferecer o melhor a todos os seus clientes e nós lucramos muito com isso.
Nunca se chega sem fome e tratamos logo de mandar vir alguns dos seus petiscos. Polvo com molho verde cozido a preceito e cortado em pedaços deliciosos. Há presunto pata negra que vamos debicando com um bom vinho branco da excelente garrafeira da casa. Os ovos de codorniz cozidos com molho cocktail são a entrada fria que aquece a alma. As moelas estufadas que a cozinha prepara são de antologia. E o fígado de cebolada é sempre maravilhoso.
Entramos na secção de peixe e os meus olhos detêm-se na açorda de marisco. Aqui é superior à de todos os outros lugares, pelo génio culinário e por termos o mar sem fim à nossa frente. É imbatível a cataplana de tamboril com gambas, surpresa para quem faz aqui a primeira refeição, vício para quem é já iniciado. Gosto muito dos filetes de pescada que a cozinha produz. Polme firme e corte perfeito do peixe, como se deseja sempre. A feijoada de chocos com gamba é uma deliciosa aventura que namora a cozinha de pescador e as preparações a bordo.
Nas carnes a segurança culinária permanece. O Naco d’Aurora apresenta crocância por fora e suculência por dentro, a assessoria dos molhos ajuda à fruição perfeita. Faz-se um bom fillet mignon salteado em azeite e alho, evocativo do bife à portuguesa, que cativa muito. Também há uma excelente alheira frita com ovo, são incontáveis as vezes que apetece quando se está à beira-mar. Para não falar da esplêndida feijoada à transmontana que nos é servida, sabores bem aprimorados, texturas em total harmonia.
O momento da sobremesa parece chegar depressa, mesmo após um par de horas de refeição com os olhos postos no mar. Aconselho o pão de ló tipo de Ovar, é delicioso. Gosto muito da tarte de lima, uma das muitas que a casa disponibiliza. O cheesecake é ótimo. E há rabanadas com creme de ovo que são quase a redefinição do doce que nos encanta e queremos sempre. Fica sempre muito por explorar nesta grande mesa oceânica, por isso o melhor é reservar já para amanhã.