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O Dom Feijão, na Avenida de Roma, é um daqueles locais que todos queríamos ter só para nós. Não há prato que não conste das especialidades. Está-se tão bem numa mesa romântica a dois como num grupo de vinte. A coreografia do pessoal pela sala é de grande rigor, e a cozinha é de antologia. Segunda é dia de bacalhau, e estão disponíveis à Gomes de Sá, a mais sublime receita do fiel; à lagareiro, com azeite maravilhoso; cozido com todos tão do agrado dos amantes da cozinha de raizes; e na forma de gulosas pataniscas. À terça há deliciosas iscas à portuguesa e caril de camarão, que aqui é feito à goesa, sem falhas. A quarta-feira é dedicada ao cozido à portuguesa, que no verão cede o lugar a iguarias mais ligeiras e amigas da digestão suave. A quinta contempla três grandes pratos: a dobrada à moda do Porto, substancial e gomosa; pato assado com laranja; e arroz de pato. Sexta é a vez do cabrito assado no forno, tratado como na serra alta; e da inefável mão de vitela com grão. Sábado disponibiliza-se um pouco de todas as especialidades da semana, para que domingo seja para todos dia de descanso.
Para entrada, escolha entre maravilhosas gambas al ajillo e amêijoas à Bulhão Pato. Funcionam como petisco e depois a liberdade de escolha é inteiramente nossa. Sua, aliás. Dos poucos sítios que elejo para comer cabeça de garoupa cozida é este Dom Feijão. A grelha competente desta casa única trata cada peixe como peça de ourivesaria, pelo que o robalo grelhado é fonte de muitos desejos e realizações. O linguado é divinal. E o salmão enche a alma de boas moções. Estão a sair sardinhas que apetece repetir à dúzia. E o pregado frito com arroz é de ir às lágrimas.
Nos pratos de carne, tenho os meus favoritos, de que destaco sem hesitações a alheira frita com ovo. É uma das melhores de Lisboa, tanto no fabrico como no processamento culinário. Adoro o lombinho de porco ibérico na frigideira. O piano de porco no churrasco é exemplar, na tenrura e no sabor. E o bife da vazia no churrasco deixa-nos sem palavras. Vale a pena mandar abrir uma boa garrafa de vinho tinto para lhe fazer a devida justiça. A garrafeira do Dom Feijão é de gabarito, e são sempre de ouvir os bons conselhos do pessoal.
As sobremesas seguem a linha da doçaria caseira, executada sem mácula e orientada para o puro prazer da mesa. Nesta altura do ano, recomendo uma mesa no grande terraço da casa. Excelente para explorar devagar e em boa companhia o luxo de ser bem servido.