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Joaquim Almeida e a sua mulher, Laura, cumpriram, no restaurante Dom Joaquim, em Évora, 18 brilhantes anos de existência. Conheci Joaquim no Aqueduto, já lá vão duas décadas de acompanhamento de perto de um percurso de qualidade, entrega e resiliência. Foi esse o seu primeiro restaurante. No Dom Joaquim, está como peixe na água e ao longo dos anos transformou a sua casa como espaço de celebração das famílias eborenses. E lugar de partilha entre amigos em tertúlia gastronómica inigualável.
Começa-se com queijinho de Évora fatiado e atende-se aos bons conselhos do mestre Joaquim, conhecedor profundo de vinhos de todo o país. Não há casa que me inspire tanto a petiscar torresmos do rissol, são magníficos e muito saborosos. E o presunto pata negra de bolota, apresentado em finas fatias cortadas no momento, completa a minha recomendação de entradas frias.
Nas entradas quentes recomendo vivamente os excelentes ovos mexidos com farinheira. Encontro alquímico de texturas e sabores, com o Alentejo a pronunciar-se. E há gambas fritas com alho de grande nível, feitas em bom azeite virgem extra.
Os pratos de peixe oferecem escolha variada. Faz-se uma massinha de peixe com camarão que dá para partilhar com mais um ou dois comensais e é muito bom. Serve-se robalo fresquíssimo que se empresta à grelha e vem com molho de alho e coentros, acompanhado de esmagada de batata e grelos. É um privilégio, reservado aos amantes de bom peixe. O polvo assado no forno é delicioso, apoiado em termos culinários na variante à lagareiro, tão do nosso agrado. E saem excelentes espetadas de lulas com camarão e tamboril da cozinha. Bem servidas e temperadas, como se impõe.
Nos pratos de carne encontramos o consolo de matar saudades de sabores que só no Alentejo nos sabem bem. É maravilhosa a feijoada de lebre e dá para duas pessoas que comem bem. Adoro a perdiz estufada com couve lombarda que a cozinha produz e processa em lume lento. O borrego assado no forno com batatinha a murro é glorioso e mostra uma faceta talvez ainda desconhecida de muitos. E não podia ser mais canónico o prato de migas de espargos com carne de porco do alguidar.
O momento da sobremesa é sagrado e fundamental, por isso há que reservar bastante espaço no estômago para lhe fazer frente. Destaco o excelente Fidalgo, pela combinação subtil de ovos-moles com trouxas de ovos. Adoro a encharcada de Mourão e aqui no Dom Joaquim sabe a céu o pudim de água de prata. Merecemos muitas refeições neste restaurante único.