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Um dia seremos todos vegetarianos. Aliás, as gastronomias do mundo dão-nos fortes indícios disso e, de certa forma, a história da alimentação também. Raízes, plantas espontâneas, algas, frutas, tubérculos e leguminosas foram sustento do ser humano e chegámos até aos dias de hoje como se fosse ontem. O chef executivo é o muito inspirado e sábio chef José Diogo Formiga da Silva e o universo culinário de muito alto nível aqui praticado tem a chancela José Avillez.
A refeição no Encanto é garantidamente surpreendente e vai convencer mesmo os mais renitentes. A refeição é constituída por uma sequência feliz de pratos de incrível coerência. A digestibilidade é indiscutível e o serviço é perfeito. São doze momentos que passam depressa, chegam à alma e deixam em nós um sentimento de grande equilíbrio.
O primeiro e fundador momento é ouro e húmus, clara alusão ao azeite, azeitonas e grão-de-bico. Belíssimo começo. O tupinambo e girassol é o prato seguinte, grande desempenho de sabor do rizoma de que temos muito ainda para conhecer. A batata-doce e gengibre é a terceira maravilha da sequência e gera uma sensação interessante no palato, um tempo fresco e saboroso. Vem a seguir maçã com castanha, morango verde e molho ponzu, deliciosa.
Mergulhamos depois no Atlântico para um prato delicioso de algas, kohlrabi - espécie de raiz de aipo - e folha de ostra, planta assim chamada por evocar o sabor da ostra crua. Surge um curioso prato, intitulado cozido de legumes de inverno, verduras da época com sugestões de caruma de pinheiro. Estamos mais ou menos a meio e estamos muito bem. Vem então a beterraba grelhada na brasa, que me assustou de início, mas que o chef preparou à maneira da filigrana, resultando muito agradável.
A seguir houve o momento do arroz carolino de cogumelos selvagens, muito do gosto e textura comuns. Resultou muito bem, assim como o que se lhe seguiu, alho-francês e trufa de inverno com massa folhada, muito aconchegante. Subitamente, uma novidade absoluta que dá pelo nome de hoshigaki, que quer dizer caqui seco em japonês, donde é originário. Muito interessante, crocância suave a oferecer-se à mastigação.
Caminhamos para o final e o penúltimo prato da degustação, um maravilhoso Abade de Priscos com capuchinha e lima caviar. Terminamos com chocolate, pinhão e limão. E saímos em beleza, de certa forma batizados nesta experiência única e suprema. Agora quero vir muitas vezes.