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Fundado em 1932, este quase centenário restaurante é pioneiro da profissão de restaurador em Portugal. Não estamos devidamente iniciados no exercício enogastronómico se nunca fizemos aqui uma refeição. E ao contrário do que se possa pensar, esta pérola nacional tem sabido renovar-se e acompanhar os tempos de forma admirável. A cozinha tem segredos que vêm do tempo da fundação da casa, pelo que a mesa é de certa forma uma viagem para lá do tempo.
Há diversas entradas disponíveis. Maravilhosos e canónicos bolinhos de bacalhau, de execução primorosa, são uma saudação excelente de boas-vindas. Faz-se aqui ainda um excecional cocktail de camarão, outrora vezeiro, hoje elevado a raridade. Não podiam faltar boas e frescas amêijoas à Bulhão Pato, prato que deleita portugueses e estrangeiros, sem dúvida grande criação do mítico chef João da Mata, que dedicou a receita ao poeta. Corre sempre bem a vida a quem opta por presunto ibérico com melão. E faz-se aqui uma belíssima lagosta gratinada, que merece atenção e prova. Duas sopas marcam o cardápio. Um creme de marisco, feito à maneira de bisque, e caldo verde, que dispensa apresentações, mas que deixou de ser preferência da tribo gourmet.
Explorando o cardápio, encontramos bacalhau à Brás, de perfil bem prazeroso, aqui processado de forma exemplar. Os filetes de linguado com amêndoas são tentação a que nos rendemos, texturas e sabores maravilhosos. Faz-se uma espetada de polvo que satisfaz mais do que bem, o polvo correcto e cheio de sabor. Não posso deixar de também recomendar as sardinhas com batata cozida e pimentos assados, espécie de sardinhada requintada no prato.
Nos pratos de carne, prosseguem as tentações. A posta à Escondidinho é de grande requinte e suculência. Há tripas à moda do Porto, pois claro, e feitas de acordo com a receita clássica. Faz-se no Escondidinho um lombinho de porco com cogumelos que além de consensual é mesmo muito bom. E o cabrito assado tem tudo o que precisamos para ser muito felizes à mesa. Termina-se docemente com um toucinho do céu, por exemplo. Ou com um pão de ló, bem assistido com um vinho licoroso bem escolhido. O crepe Suzete nunca falha e se o momento é de festa, não há melhor forma de coroar a refeição.
Para os amantes de chocolate, a charlotte é imperdível. Mas imperdíveis mesmo são as memórias que daqui levamos. Foi aqui que tive uma das grandes refeições da minha vida.