
Joana Calejo Pires/DR
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Transposto o histórico Largo do Carmo, tomamos a estreita Rua da Condessa até meio caminho e estamos no restaurante de fado que hoje visitamos.
O Fado ao Carmo abriu há cerca de três anos e meio, pela mão de dois amigos, o guitarrista Luís Guerreiro e o fadista Rodrigo da Costa Félix.
Na chefia da cozinha está desde o início o chef António Saraiva, jovem cozinheiro focado na nova cozinha portuguesa e apostado na inovação. As suas propostas primam pela ousadia e assentam na fusão de sabores.
O Fado ao Carmo ganhou rapidamente reputação no seio da comunidade fadista, ao mesmo tempo que seduziu sem resistência uma fatia interessante dos turistas que visitam a capital. Fado pede petiscos e vinho e na casa onde nos encontramos a criatividade é de excelência em tudo o que sai da imaculada cozinha. Pastéis de massa tenra de sabor vincado e intenso, a fazer recordar os de antigamente. O gostinho bom, a técnica ancestral e a textura crocante faz com que nunca nos fiquemos apenas pela unidade, comemos logo dois ou três.
Os peixinhos-da-horta fazem lembrar a tempura japonesa, o nível técnico é fascinante, sem excessos de gordura da fritura e polme irrepreensível. No contacto com o palato, quase se desfazem, originando novos sabores. São servidos com uma tacinha de molho tipo maionese, no qual vamos mergulhando os fritos.
O pica-pau do lombo de novilho é macio, tenro e saboroso, como raramente se encontra em casa petisqueira. Delícia garantida. Altamente recomendável é a muxama de atum. Obtém-se da seca e prensagem do peixe até chegar a um tal ponto de rendimento que se consegue fatiar fininho. Herança popular da tradição algarvia, representa bem o sabor que se consegue obter das preparações mais simples.
Os pratos principais são todos apetecíveis e, na verdade, dada a generosidade das doses, aconselha-se a escolha de no máximo um prato de peixe e outro de carne. Dão à vontade para dividir. Há dois pratos de bacalhau de que guardamos ótima memória. A sopa rica de bacalhau é abundante em colagénio, fácil de identificar por colar os lábios e estimular a gula, e o Brás de bacalhau marca por fazer lembrar o famoso bacalhau à Brás. Cremoso e copioso, como a gente gosta. Não deixe de provar as ervilhas com ovos escalfados, ou apetecendo um bife à portuguesa. Deixe que seja o fado a guiar-lhe as vontades.