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O Guelra encontrou o seu espaço material onde outrora encontrávamos o saudoso Caseiro, na Rua de Belém, em Lisboa. Hoje, por iniciativa dos sócios, o espaço está ao rubro, a prestar um serviço precioso a esta rua repleta de história. O piso térreo está transformado em balcão e esplanada e dá pelo nome Ocean to Table. Ganhou com a recente renovação uma montra de peixe e marisco e sofisticação, enquanto o piso superior, a que deram o nome First Floor, é um espaço de degustação. É lugar em que facilmente nos deixamos ficar vagarosamente e fazia falta nesta parcela ribeirinha, resguardada da revoada turística.
O biónico chef Manuel Barreto supervisiona ambos os pisos, o chef Gonçalo Gonçalves oficia ao jantar no espaço do primeiro piso. Foco-me na oferta de grande nível que ali se pratica, assente em ciência culinária de primeira linha. Por detrás está um racional de ponte gastronómica entre Portugal e Japão, que aconselhamos a todos percorrer.
Começa com uma ostra especial - da Ria Formosa -, temperada segundo o gosto português e a evocar a forma excelente de a consumir. Maravilhosa, há que dizê-lo. Vem depois sashimi de peixe do dia com miso e vinagre de arroz, sucedendo-lhe caldo dashi da semana; os temperos vão evoluindo ao longo do tempo. Altura para o tártaro de atum, de grande nível. O ramen de lula é muito especial e ousado, revela grande segurança culinária. Fica na memória o excepcional prato de robalo, endívia roxa, puré de aipo e molho demi-glace, trabalho brilhante de fusão de sabores e técnicas. A caminhar para a etapa final da degustação neste primeiro andar com vista para o mundo, surge a sobrmesa muito especial de , batata-doce e camomila. A genial sequência termina com a proposta de pêra nashi e líchia de resultado telúrico e fundador.
A assessoria vínica foi sempre certeira e oportuna, pela mão do oficiante Ricardo Bento. A casa merece nova visita para aquilatar bem o que se passa no piso de baixo, donde jamais saimos insatisfeitos. Há ostras da Ria da Formosa que podemos consumir ao natural, petiscos diferentes e criativos, como rissol de lingueirão, crocantes de polvo e puntinillas de choco. O waffle de camarão, composto por tártaro de camarão, adobo, aipo, limão e noz, é intenso e ligeiramente picante, efeito fantástico na boca. Também se faz um excelente prego de atum rabilho, delicioso.
A tarte de queijo é uma belíssima forma de terminar a refeição. Está aqui um novo templo marítimo, como Lisboa tanto merece. Há bondade e muita arte nesta forma de oferecer o que vem do mar.