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O chef Júlio Pereira é natural da Carvoeira, aldeia que fica entre a magia de Sintra e o mar da Ericeira. Com quinze anos apenas, começou a sua formação na Escola Superior de Hotelaria do Estoril. Vocação mais do que confirmada, seguiu-se um périplo pelo Piemonte, em Itália; Espanha, junto do estrelado chef Sergi Arola; Brasil; Angola e São Tomé e Príncipe. Por imperativos de coração e familiares, veio a assentar praça no Funchal em 2018.
O rasgo criativo do chef e a sua capacidade de trabalho funcionaram como autêntico dínamo, atraindo jovens cozinheiros para junto de si. Ao mesmo tempo, seduziu novos públicos, incluindo a relativamente convencional comunidade gourmet funchalense. Nasceu esta pérola restaurativa, na qual Júlio Pereira colocou ao dispor tudo o que tinha aprendido e absorvido. Não tardou muito a juntar-lhe o Ákua, de orientação atlântica, e recentemente criou o Yuki, de clara vocação oriental.
Sente-se o mundo em cada criação do dinâmico e irrequieto cozinheiro. É por isso que encontramos no seu Kampo entradas como cogumelos, chouriço e espuma de abóbora, inspiração vegetariana de grande nível. Brioche, pancetta e kimchi, proposta de fusão que encanta pela profundidade de sabor. Carpaccio de novilho com queijo de cabra trufado, influência da zona saloia da sua infância. E escalope de foie gras, banana e maracujá, toque de alta cozinha de forte tropicalidade madeirense.
A secção de peixe do cardápio mostra o à-vontade do chef na técnica italiana dos risotos e apresenta um brilhante arroz negro com polvo e camarão. Destaco também o peixe do dia com arroz de algas e molho tom yum, de influência tailandesa, exotismo a toda a prova. Os pratos de carne são também surpreendentes, a começar no borrego do pastor com batata cremosa, delicioso e feito a preceito, a partir da melhor matéria-prima. Existe o tornedó surf and turf, gloriosa proposta de encontro mar e terra. Há um bife do acém que demonstra na perfeição o domínio total de técnicas e pontos de cozedura. E faz-se uma costela mendinha com cogumelos e batata trufada que se devora com voracidade.
As sobremesas são elas também inspiradas em abordagens de fusão. Pode terminar em beleza com chocolate negro com caramelo salgado e tangerina, ou renunciar a toda e qualquer convenção e enveredar pela maravilhosa criação doce de Sichuan, limão e manjericão. Muita criatividade e muitas saborosas propostas esperam por si na Madeira.