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Fica em pleno bairro das Antas este restaurante que há mais de 30 anos nos faz acorrer ao seu encontro. Manuel Moura é o proprietário e figura principal, e está sempre no seu posto para nos receber no abraço mais fraterno. O tratamento é de luxo, os empregados conhecem toda a gente e a cozinha tem governo bem seguro, com o patrão sempre a vigiar na sala e na cozinha para que toda a refeição seja perfeita.
Não me lembro da primeira vez em que me sentei à mesa no Líder, mas lembro-me que foi há muitos anos. Começar com um caldo verde é começar muito bem, couve migada fininho, pouca batata e muito caldo, que esse é que é assunto. Manuel Moura tem muito orgulho no peixe que vem diretamente da lota e tem filetes de pescada com arroz de tomate que enchem as medidas. Polme perfeito, fritura a condizer, e o arroz caldoso como se impõe. A cozinha faz uma açorda de gambas com lagosta que toca a sublimidade e tem vários segredos que a tornam muito apetecível. A simples posta de pescada cozida, com a devida assessoria de legumes aqui é iguaria dos deuses. O segredo, segundo Manuel, está na qualidade do peixe. O arroz de robalo com coentros é por isso, também de conferência obrigatória.
Nas carnes estamos igualmente bem governados. Come-se aqui tripas à moda do Porto de antologia pantagruélica, Manuel Moura é de resto grande animador da confraria das tripas à moda do Porto, que cobre a excelência do prato e vai mais além, numa obra social de grande fôlego. Também gosto muito do joelho de porca no forno com maçã assada que aqui se prepara, muito equilibrado e livre dos excessos de gordura que encontramos por toda a parte. E o cabritinho no churrasco com molho picante vicia o palato desde a primeira garfada. Manuel tem os fornecedores certos para tudo o que serve aos seus clientes. Em termos culinários, tem pratos da grande tradição portuguesa, mas que são sujeitos a épocas distintas de disponibilidade. Caso por exemplo da sopa de castanhas, cremosa, equilibrada e deliciosa. As papas de sarrabulho são únicas nesta casa, moderadas nos excessos mas intensas no palato. A perdiz estufada com castanhas faz as delícias dos amantes de boa caça. E o sável frito com açorda de alho configura perdição.
De todos os pratos tiramos o maior proveito se seguirmos as recomendações do amigo Manuel em matéria de vinhos. Garrafeira bem apetrechada. Em matéria de sobremesa estamos bem. Rabanadas e aletria fazem as delícias de todos e a tarte de amêndoa é glória muito recomendável. Como tudo o resto, assim nós tenhamos a grande virtude de fazer desta a nossa mesa.