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Restaurante incrustado no casario granítico e frio de Oliveira de Frades, o Luciana é o que se pode simplesmente chamar lugar muito especial. O espaço agiganta-se à medida que nos vamos acomodando na exígua sala de pedra e madeira.
Os pratos de peixe são marcados pelos belíssimos bacalhau e polvo à lagareiro. Processados com azeite de boa qualidade, configuram um pedaço de céu. Não deixe de provar as maravilhosas lulas grelhadas. Frescas, bem temperadas e muito bem grelhadas. É na simplicidade que está muitas vezes o pleno da satisfação.
No domínio das carnes, marca presença forte a oferta culinária local, liderada pela inefável vitela à moda de Lafões, aqui servida em púcara de barro. Carne tenríssima, a desfazer-se na boca, temperos acertados e, ao mesmo tempo, muito discretos, a fazer com que seja a própria carne a brilhar. Espécie de minimalismo ao serviço do sabor. Certo é que resulta muito bem, e vai ainda melhor com a assessoria dos vinhos de Dão-Lafões, que alguns produtores têm ajudado a recuperar. É mais um dos casos em que vinho e comida repousam em paz nos braços um do outro. Vale a pena provar os néctares disponíveis, aqui neste restaurante e nas garrafeiras especializadas. Merecemos bem ser bem tratados e não há maior consolo do que encontrar ligações como esta. Assim podia e devia ser no resto do país. Para lá caminhamos, ainda que de forma discreta. Até lá, vamo-nos deliciando com este meio caminho para o paraíso. Faz-se um cabrito assado à padeira que vai direto ao coração. Há uma costela de novilho que é imponente, no tamanho, suculência e sabor. O naco grelhado com arroz de feijão é de ir às lágrimas. Tudo nesta casa tem toque mágico e tudo é também pacificador.
Estamos como num retiro espiritual, em que a sequência acontece por mecanismo misterioso. As sobremesas são, como se espera e quer, caseiras. O leite creme queimado é de antologia e apetece logo comer dois ou três. Há um pudim de ovos muito bom, que vai direto à alma. Cheio de sabor e com o inevitável travo a caramelo caseiro, nada industrial. A tarte de abóbora é uma boa descoberta, e é doce que raramente se encontra em restaurante. Assim como raramente se encontra uma família como esta, com a matriarca e oficiante Luciana a tratar de nós. Se formos com atenção, damos com o rio Vouga logo ali. Mas podemos entregar-nos ao aconchego e carinho deste restaurante único, a que se volta vezes sem conta.