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Estamos em plena Boca do Inferno. O restaurante Mar do Inferno fica naquele ponto de Cascais em que o temor e o fascínio pela rebentação se ligam, encantando-nos. A família Tirano governa esta casa com mestria e garbo há cinquenta anos sem interrupção nem esmorecimento. Diariamente, desfilam pelos expositores fresquíssimos mariscos e peixe do dia de gabarito.
Sentamo-nos na mesa do nosso agrado e a empreitada começa, animada por excelentes pastéis de bacalhau, queijo fresco e presunto ibérico. Há excelentes gambas al ajillo e as ameijoas à Bulhão Pato não lhes ficam atrás. A riqueza marítima é garantida, pelo que é mais do que recomendada a sopa de marisco, cremosa e bem apaladada. Em toada petisqueira, pode optar por sapateira descascada no casco, ou debicar belas gambas panadas.
Entramos nos mariscos do dia e invariavelmente ficamos com o palato ao rubro, porque apetece tudo. Há ótimas ostras ao natural, assim como percebes cozidos no ponto exato de maior rendimento de sabor. Adoro bruxas e há quase sempre. Gosto muito também das canilhas que aqui se preparam, come-se sem se dar pelo número das que ferramos e comemos. O lavagante cozido é extraordinário, com a respetiva assessoria de molhos ou batatas fritas, combinação deliciosa, sobretudo quando enriquecida com ovos estrelados.
Apetecendo, há cabeça de cherne cozida, para longa e lenta exploração. Um robalo ao sal feito aqui é manjar de deuses, servido com total requinte pelos oficiantes Reinaldo e José António, mestres nas suas artes. Mariana Tirano, neta dos fundadores, está sempre por ali e gosta muito do que faz, aconselhando todos com o maior carinho. Convém, por isso, pedir e fazer fé no seu bom conselho.
Já sabemos que nas boas casas marisqueiras há sempre boas carnes e o Mar do Inferno não é exceção. Coroar a experiência marítima com um excelente bife do lombo é redenção garantida. Havendo espaço no estômago para mais, peça a costeleta de vitela Mirandesa, é experiência inesquecível. Os mais novos - e eu próprio, confesso -, vão gostar muito dos escalopes de vitela panados ou do tornedó com cogumelos.
Como sobremesa, sugiro fortemente a torta de claras com doce de ovos. Não pesa na digestão e é muito bem feita. Gosto muito da tarte de limão merengada e o quindim de coco configura perdição. Neste promontório de Cascais nunca mais se sai, fica-se em expectativa até à próxima visita.