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Não sei bem por onde começar para descrever devidamente este lugar único. Fica bem perto da Praia da Arda, que o tempo rebatizou como a praia da Mariana. Não se pode chamar apoio de praia, é muito mais do que isso e a informalidade e rusticidade rejeitam toda e qualquer categorização. Mariana era a mãe de Aires Felgueiras e o local continua perfumado pelas persistências de outrora, numa mesma casa que já conta com mais de sessenta anos de existência.
Foi aqui que me deliciei com o seu prato emblema, o robalo com algas, e também com uma das melhores cabeças de peixe que comi na minha vida. No início, o cozido à portuguesa era o grande motivo de romagem da comunidade gourmet até Afife, a que se juntavam pratos de bacalhau. O celebrado robalo com algas é relativamente recente e nasceu de um desafio entre amigos, mas acabou por ser elevado a prato emblema com a consequente procura acrescida.
O peixe fresco grelhado nas muito competentes brasas é rei no Mariana e faz-se uma parrilhada de peixe que pede mesa grande e partilhada. Nesta altura do ano, a lampreia tem muita procura e aqui processa-se na forma de arroz, assim como estufada à bordalesa.
Que não se pense, contudo, que a carne não tem também tratamento de luxo. O cabrito assado no forno é maravilhoso, apaladado e rigorosamente selecionado. O cozido à portuguesa é feito com particular cuidado, peças cozidas nos tempos certos e o caldo supremo final a embelezar a experiência. Os pratos de cozedura lenta estão no ADN da casa e o estufado soberbo que é o coq au vin, feito com galo de criação própria, é de ir às lágrimas.
A grelha não serve apenas para peixe. São vários os cortes e peças que se emprestam com sucesso às brasas. Picanha, costeletas de borrego, os vezeiros secretos e plumas de porco e costeletas de bovino são foco frequente do apetite dos clientes habituais.
É inteiramente razoável começar com as belíssimas ameijoas à Bulhão Pato que a casa produz, passar por excelentes rissóis de camarão e depois de uma sopa de legumes à antiga estacionar numa boa peça de carne grelhada.
Há boas sobremesas de recorte caseiro. Leite-creme, que pode ser queimado ou não. Ou um toucinho do céu de grande charme. A horda que procura esta mesa chega a vir a toque de caixa do Porto só porque a gula lhe tocou nos registos certos. Ou mesmo de mais longe. Ir a Viana do Castelo e não estender a viagem até Afife é quase como ir a Roma e não ver o Papa.