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Esta é para mim a melhor marisqueira do país. Afirmação contundente, eu sei, mas é da mais elementar justiça reconhecer a excelência do marisco, peixe e serviço desta casa. Miguel Nunes gere uma invejável bateria de fornecimento de frescura total, juntamente com uma das brigadas mais eficientes da restauração nacional. E uma das melhores garrafeiras. É imbatível no produto que oferece e está sempre na crista da onda no tocante a novidades.
Entramos no sumptuoso espaço restaurativo e mergulhamos no oceano e no espaço onírico idealizado por Vanda, mulher do Miguel. Vem sempre alguém ter connosco à porta para nos levar à mesa e até lá passamos por uma copiosa montra de peixe e marisco do dia e logo ali o gigantesco aquário. Atividade não falta. Presunto Cinco Jotas, gravlax - salmão marinado - e anchovas da Cantábria com pão cristal são delícias favoritas, ainda a empreitada não começou. Para debulhar, há gambas al ajillo, amêijoas à Bulhão Pato, canilhas, percebes e carabineiros de qualidade inexcedível.
As entradas são ricas e diversificadas, destaco as minhas favoritas. Tártaro de atum, execução brilhante e precisa. Sashimi de lavagante, que raramente se encontra noutras casas, incluindo as especializadas em orientalidades. Puntillitas fritas, que são lulinhas feitas guloseima. Camarão listado com caviar, em combinação genial que o sommelier Gabriel Duarte sabe maridar com vinhos de enorme eficácia. E ovos rotos com presunto que nos põem a caminho do paraíso.
Mas há mais, muito mais. Nos pratos principais é que a perdição começa. Lavagante à basca, o marisco tratado e cortado como manda a regra, em travessa longa com batatas fritas às rodelas e ovos estrelados por cima. O arroz de lavagante é exemplar e a açorda de gambas é como a gente gosta.
Os pratos de peixe são de antologia. Caso, por exemplo, do lombo de robalo com beurre Blanc de ouriço, da lavra e talento dos chefes Manuel Costa e João Araújo, que também processam as surpreendentes lulinhas fritas à algarvia. E filetes de peixe-galo com açorda de ovas. E o inefável robalo à Bulhão Pato, de incrível nível culinário. Marisqueira que se preze tem sempre boas carnes para fechar o ciclo e na Nunes não se brinca com o assunto. Gosto muito do bife do lombo e passei recentemente a gostar também da excelente paletilla de cordeiro com arroz de miudezas. Grande arte de forno, acerto genial de temperos e texturas.
Para sobremesa, ficamos muito bem com uma fatia de tarte de limão merengada. Grande tratamento temos sempre neste pedaço de oceano.