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O restaurante Paço d’Alma abriu portas há poucos meses e já está a mostrar os seus trunfos. O chef Jorge Filipe e a sua mulher, Ana Rita, são o casal telúrico que anima a casa e são ambos perfecionistas. Têm raízes na cidade dos templários e o contacto inicial com o público é bastante promissor. Tomar, de resto, está a conseguir tornar-se referência interessante na comunidade gourmet. Ele na cozinha, ela na sala, é um projeto inteiramente intencional e vencedor. A aposta forte é a cozinha de influências internacionais com forte pendor tecnicista.
Logo nas entradas, damos com um maravilhoso polvo coreano, que consta de tentáculos tenros de polvo com maionese de kimchi. Ligeiramente picante, mas muito bem conseguido. Há um tártaro de atum asiático delicioso, cubos que se oferecem à mastigação envolvidos em manga madura e temperos exóticos. Faz-se um excecional ceviche de beterraba com creme de amendoim que só por si eleva já muito o nível de sofisticação da refeição. Leva milho frito crocante e a base sedosa torna esta entrada muito atraente. Trata-se, além disso, de um prato vegetariano.
Entramos nos pratos de peixe e fico preso ao robalo com esmagada de batata e molho à Bulhão Pato. É um prato que fala por si e fala ao coração dos fãs dos sabores tradicionais portugueses. O bacalhau à Brás com azeitona explosiva segue a mesma linha, com um apontamento interessante de cozinha molecular. Há exotismo e tropicalidade no tabbouleh primaveril com tataki de salmão e molho de maracujá, configura atrevimento consentido que nos coloca no centro da atividade. E faz-se um arroz do mar com camarão, lingueirão e mexilhão, feito com um caldo evocativo da bisque.
Nos pratos de carne, damos com um belíssimo ragu feito a partir de carnes nobres, bochechas, rabo de boi e ossobuco, com puré de batata e parmesão gratinado. Temperos brilhantes, muita presença em boca e um certo toque de mil e uma noites que nos faz viajar. Produz-se um corte grelhado de vazia maturada, exigente do ponto de vista da vigilância do trabalho do fogo, mas que o nosso chef governa e domina com mestria. E há plumas de porco ibérico que se levam à grelha para aperfeiçoar no ponto que se deseja, servido com boas batatas fritas.
Nas doces terminações, é irresistível a mousse de chocolate After Eight, intensa e mentolada como se impõe. Faz-se um belíssimo pudim de coco com gelado de piña colada, uma maravilha. E a panacota de baunilha com coulis de frutos vermelhos vai seguramente ao encontro de muitos. Muito boas surpresas aguardam neste Paço d’Alma, em Tomar.