Corpo do artigo
Abriu há dez anos o restaurante Palace, em Viseu, e marca a cena restaurativa desde a inauguração. Tornei-me, como muitos, frequentador assíduo desde a primeira hora. Há um toque de eternidade em tudo o que acontece nesta aconchegante e mágica casa. Responsabilidade total de Vanessa Santos e do seu marido, chef Luís Almeida.
A longa lista de entradas sugere que se trata de lugar de petisco e serviço rápido, mas o conforto e a sofisticação culinária ditam regra bem diferente. Os peixinhos-da-horta são viciantes, pela crocância e sabor. Os ovos rotos de lavagante são de comer e chorar por mais. A açorda de gambas e coentros impressiona pela franqueza de sabor e aprumo nas texturas.
Adoro os chocos panados, servidos com molho de iogurte e lima, os setubalenses deviam vir ao Palace reconfigurar as expectativas. O frango em tempura com molho barbecue configura perdição. Gosto muito das moelas estufadas, vêm num tachinho e é autêntica guloseima. O rabo de boi com trufas e parmesão é maravilhoso. E a combinação foie gras, brioche e pera é uma experiência que todos deviam fazer pelo menos uma vez na vida. E não disse nem metade das delícias disponíveis.
O capítulo dos arrozes é particularmente rico. Não nos podemos esquecer que estamos na latitude dos grandes arrozais do Carolino do Baixo Mondego. Aponto os meus três favoritos. Arroz caldoso de bacalhau e grelos, pela disponibilidade da goma e correção de processamento. Arroz de cabidela de galo, pela viagem no tempo que proporciona. E cabrito com arroz de forno, pela tradição através das gerações.
São sempre de considerar alguns pratos que não me saem da memória. O polvo com migas de feijão-frade tem o toque muito especial do chef Luís Almeida e resulta suculento na boca. Há um bife Wellington com puré trufado que é irrecusável. Adorei o naco da vazia com molho de queijo Serra da Estrela, ligação perfeita entre os ingredientes. E é incrível o folhado de cabrito assado do Caramulo, prato que nunca mais vi em parte alguma, nem sequer por aproximação. O génio criativo do chef Almeida não admite sucedâneos. E ainda bem.
As doces tentações são diversas. Pode apetecer um pecado ligeiro e o suspiro, limão e hortelã é excelente possibilidade. O creme queimado de espumante deixa-nos sem palavras, simplicidade de mãos dadas com a complexidade. E as natas do céu são a profusão doce que todos merecemos. Não posso deixar de recomendar a excelente mousse de chocolate. O Palace é casa para voltar muitas vezes. Todos os dias.