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Já abriu há dezasseis anos e parece que foi ontem que Francisco Malhão decidiu criar este templo do petisco. Na altura, o objetivo principal era criar um cardápio focado no borrego e manteve-se fiel ao conceito original, de elevar a carne de borrego ao seu expoente máximo. A verdade é que chegou mais longe do que ele próprio previa. A oferta é copiosa: iscas de fígado, bolinhas, perna, costeletas, assado no forno, ensopado, arroz e mais recentemente na forma de tártaro. O nosso herói é de alma inquieta e pode bem ser o profissional que tem a melhor oferta de borrego do país.
Mas nem só de borrego vive um restaurante e há muito mais ao nosso dispor. Para começar, tem um delicioso queijinho de ovelha fatiado, tão do gosto português. E o petisqueiro prato de enchidos de porco ibérico é oportuno e consensual. E nunca dizemos não a finas e bem cortadas fatias de presunto de porco ibérico de bolota que a casa disponibiliza.
Vencidos estes três petiscos, sentimo-nos preparados para as entradas. E que entradas! À Brás de farinheira de porco ibérico, a célebre forma aplicada à farinheira, com excelentes resultados. Gosto muito dos peixinhos-da-horta em trilogia, solução em que vai mudando o legume de base. É brilhante o ceviche de carapau com manga, lima, coentros e cebola roxa. E fica-se com a obsessão da brusqueta de biqueirão da Ria Formosa com picadinho alentejano, a forma mais gloriosa de dar a provar o peixe com carinha de anchova. Também é de considerar o carpaccio de vitela de Montemor, de que só Francisco Malhão sabe o segredo.
Apesar de estarmos em toada petisqueiras, a casa desenvolveu pratos de grande valor culinário. No peixe, destaco o bacalhau confitado na frigideira com gambas e açorda de berbigão, o meu bivalve favorito. Excelente é a sopa de cação, feita de forma tradicional, sem véus nem disfarces. E há um moderníssimo tataki de atum que enche as medidas do amigo do mar.
Na carne, opto pelas bochechas de porco ibérico grelhadas, produto de primeira trabalhado por quem muito sabe. Claro que há migas tradicionais com carne de porco frita. E fazem-se costeletas de borrego grelhadas de fazer as lágrimas vir aos olhos.
Chegando à sobremesa, temos uma excelente sericaia à nossa espera ou uma simples mousse de chocolate. Mas é surpresa bem merecida a belíssima tarte de limão merengada que a casa tem. Tem de se vir com vagar ao Pátio dos Petiscos e não se deve ter pressa de partir.