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No coração de Lisboa, junto ao Campo Pequeno, fica o pequeno e precioso reduto chamado Petisco Saloio. Os chefs Diogo Meneses e Luís Vieira deixaram as suas jalecas de alta cozinha para trás, arregaçaram mangas e decidiram enveredar por outros caminhos. Decisão por que temos todos de estar gratos, porque o sabor português ganhou mais um trono popular. Ficaram algumas saudades dos tempos de glória num estrela Michelin no Guincho, mas a proximidade instalada em 2018 vale bem tudo o que deixaram.
A casa é petisqueira e o requinte culinário é sublime. Pão saloio, manteiga temperada, molho de carne e azeite vêm para a mesa a nosso pedido e é assim que a refeição começa. Faz-se um pica-pau de camarão delicioso, de temperos muito assumidos, que exploramos com voracidade e gula. Há choco frito, que é a forma de aquilatar logo a capacidade e qualidade culinária do que aqui acontece. Além de fazer corar as petisqueiras de Setúbal, ao transformar o choco frito em iguaria quintessencial.
Ainda dentro dos pratos de peixe, é impossível resistir ao guisadinho de polvo com feijoca. Ligação genial dos ingredientes entre si e trabalho fantástico de cozinha, a fazer-nos render ao charme desta pequena grande casa. O bacalhau à Saloio é excecional e é uma salutar derivação do bacalhau à moda de Braga. A posta vem com cebolada de pimento, molho holandês e batatas fritas às rodelas e é toda uma instrução.
Nos pratos de carne, os croquetes são de devorar logo dois ou três de uma assentada. Temos pica-pau de novilho, a vezeira solução que agrada sempre. Os ovos rotos com farinheira são espectaculares e prendem-nos a alma. Tratamento de primeira dado à farinheira, com esta preparada e frita como manda a regra. A cozinha prepara uma deliciosa e gostosa sandes de bochecha com queijo e maçã, caso estejamos com desejos de pão e molho. Agora que o frio se insinua, sai um maravilhoso arroz de inverno com bochecha de porco que vai direto ao coração. Um genuíno prato de tacho, feito segundo os preceitos da mais genuína cozinha saloia. Produto de proximidade, ingredientes autênticos. O ossobuco à lavrador põe-nos a pensar na vida e vem com o tutano no interior de cada peça, para nos deliciar. Gosto muito do leitão com couve e pêro, trabalhado com muito carinho e grande efeito no prato, harmonizando tudo na perfeição.
Estamos, no entanto, no lugar democrático que é o Petisco Saloio. Há que consultar os nossos amigos acerca das sobremesas do dia, são sempre boas e ajustadas. Tudo aqui é feito à nossa medida. Petiscar assim é uma glória.