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O chef Miguel Gomes, proprietário e chef do Saint, em Loulé, nasceu em Faro. É um lutador nato e tem um talento grande para todo o trabalho de cozinha. Começou com o chef Henrique Leis, para ver se tinha capacidade de aguentar a intensidade do trabalho. Acabou por ficar no restaurante do grande chef brasileiro por 19 anos. Chegado o tempo, o jovem — que já vai nos quarenta — decidiu que era altura de criar o seu próprio espaço. Estabeleceu-se com o seu talento e força de trabalho no centro de Loulé e não esconde a realização que sente.
O cardápio é rico em soluções petisqueiras muito originais e sápidas. Oferece, por exemplo, cebola em tempura, servida com molho de iogurte grego, que nos põe logo em festa. Há maravilhosas asas de frango, de tempero imaculado e fritura perfeita. O carpaccio de novilho do chef Gomes é elemento de charme inescapável, corte fino e perfeito da carne, ornada com alcaparras, rúcula e parmesão e mais uns segredos do chef. Gulodice fresca e finamente texturada que raramente encontramos. O carpaccio de polvo é igualmente atraente, servido com molho vierge.
Há baos, as pequenas sanduíches de pão branco macio nascidas no oriente, aqui vertidas para delícias de gosto internacional. É muito especial o bao de legumes à ratatouille, a namorar a cozinha francesa na delicadeza. Também há naan, ou pão indiano, com apresentações particularmente gostosas. Caso, por exemplo, do naan de sardinha, servido com brunesa de pimentos e vinagre de mel. Toda uma experiência.
Nos pratos principais não falta inspiração. Faz-se um filete de robalo com pimentos salteados, batata a murro e molho beurre blanc que é particularmente elegante e leve. Não menos bom é o camarão à Saint, com molho de pimentão-doce e bisque e batatas wedge. Os pratos de carne revelam vários disparos de sabor que vão garantir que os dias são todos muito diferentes e não faltam especialidades para provar. Há bochechas de porco estufadas servidas com puré de batata e cinco cebolas. Bastante tenras e bem apaladadas. A picanha grelhada é maravilhosa e vem com arroz e feijão-preto, à brasileira. O caso do lombo de novilho à moda da casa é muito sério e é servido com puré de aipo, cogumelos salteados e molho demi glace.
Há uma única sobremesa, um belíssimo fondant de caramelo com matcha. As muitas artes do chef Miguel Gomes estão bem patentes nos mais pequenos pormenores das suas criações. O Saint é casa para visitar muitas vezes. E fazer dele a nossa própria casa.