Corpo do artigo
A designação de soão está ligada à expressão de vento quente que vem do Oriente. O nome é feliz e encontra aplicação aqui por terras lusas. Instalada no que foi outrora o cinema Alvalade, esta taberna asiática, que nasceu da fantasia e talento comercial do empresário Rui Gaspar, tem a batuta culinária do chef Carlos Santos. O espaço alberga as gastronomias orientais na perfeição. Tem balcão e algumas mesas no piso térreo, depois desce-se para uma galeria de pequenas mesas onde temos mais privacidade.
À laia de entrada, dispomos de petiscos de excelente nível. A chamuça de cabra, caril e chutney de manga é originária da Índia e é petisco que os portugueses integraram na perfeição nos seus lares e restaurantes. De influência coreana, há asas de frango com molho coreano e sementes de sésamo, de que me confesso fã incondicional. Prepara-se aqui um maravilhoso dim sum frito de frango e castanha de água, de clara proveniência tailandesa. E do Japão chega-nos a impressionante robata de vieira selada em manteiga, cogumelos shimeji e molho nokiri.
É nesta altura da refeição que nos sentimos tão bem que começamos a tentar invocar a cláusula da necessidade absoluta para aqui ficar e provar o resto do cardápio. O pad thai Gaijung é muito bem feito e apresentado, massa de arroz salteada com frango e camarão. É iniciação gloriosa o tataki de lombo de novilho, corte perfeito e tratamento de luxo. E a robata - churrasco japonês - é porta do céu, aqui está disponível com peixe do dia. No domínio do sushi, a oferta é copiosa e muito saborosa. Gosto muito do rolo de atum, espargo e kimchi. Um outro rolo, de barriga de atum com cebolinho e sésamo, também sabe muito bem. E aconselho vivamente a prova de rolo de caranguejo de casca mole, abacate e ovas de peixe-voador.
A coroar estas orientalidades é imperdível o usuzukuri de pregado, uma espécie de carpaccio de grande efeito na alma e no estômago. A diversidade de configurações e proveniências é enorme e em todas elas o sabor é inesquecível.
Espantosamente, quando chegamos ao final, não dispensamos a sobremesa. Tudo segue a linha de grande harmonia que se instalou em nós desde o início. Como se consegue resistir ao magnífico gelado de erva-príncipe, gengibre e manjericão? Muito bom é o bolo cremoso de coco que esta casa faz. E é divino o arroz glutinoso com manga e leite de coco deste soão de tantos ventos. Se não conhece tem mesmo de fazer a experiência. Garanto que muitas se lhe irão seguir.