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Cristiana Rodrigues aos comandos da Tábua de Sabores, Aida Pupo a governar a Quinta da Eira Velha. São ambas cozinheiras de muitos talentos e belezas, a que juntam invulgares e raras criatividade e capacidade de trabalho. A chef Cristiana é advogada, cuja causa passa por fazer justiça às muitas riquezas do nosso património alimentar. Tem ajudado de forma inestimável a dar a conhecer a origem dos produtos, acarinhando quem os trabalha, ao mesmo tempo que se ocupa da sua distribuição. Trabalho louvável, reconheça-se. Com a chef Aida faz dupla perfeita e sempre inspirada, juntas criaram receituário que vale ouro e ilumina a cena restaurativa de Viseu.
Dispõem de várias entradas, pratos e sobremesas e na sequência da refeição sabem como criar atmosfera e emoções que surpreendem. O ovo a baixa temperatura com cebola crocante em maçã da quinta é um tratado de modernidade e sabor e revela um lado inovador que é sempre bem-vindo. A tibornada de alheira é manifesto de forte regionalidade, produto de gabarito e técnica bem afinada. E a tempura de legumes, que muda de configuração ao longo do ano, é de execução primorosa.
Nos pratos de peixe, destaco as lulas gratinadas, por ser um prato de matriz familiar que sabe sempre bem encontrar nos dias festivos. O bacalhau à Brás faz-se segundo ritual e cânones tais que quase se diria ter o galego original a oficiar na cozinha. E o bacalhau frito com arroz de legumes é tiro certeiro na boa tradição minhota.
Chegamos às carnes e encontramos o requintado galo estufado em Touriga Nacional, inspiração clara no coq au vin francês, trabalho aturado de afinação de receita e valorização da criação nacional. Faz-se arroz de pato com o mesmo requinte e com o sabor especial de tudo o que sai das mãos das duas fadas. E o coelho assado em vinho tinto é prato vencedor, mesmo para os detratores desta proteína na mesa dos portugueses. Não é, felizmente, o meu caso.
Na secção das sobremesas, temos muito por onde escolher. É muito original o gelado praliné e é solução infalível para o termo da refeição, além de excelente na harmonização vínica. Faz-se a sericá - ou sericaia - como no Alentejo e é a ode à canela e trabalho de forno que por vezes nem no Alentejo se encontra. E a regionalíssima tigelada é digna do estandarte da sobremesa. Soluções não faltam para que um evento, almoço ou jantar seja experiência inesquecível. Em boa hora descobri esta tábua de salvação e de sabores.