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É sempre com grande emoção que vou ao Toucinho, em Almeirim. Por razões diversas, mas principalmente por ter sido aqui que nasceu a famosa Sopa de Pedra, pela grande qualidade de tudo o que sai da cozinha e pelo afecto que tenho pela família de João Simões, o proprietário.
Vista de fora, a casa é aparentemente simples, mas logo que entramos percebemos que há uma sequência de salas que conseguem albergar muitos comensais. A caralhota, um pão individual que nasceu para assessorar caldos fortes e de mantença, também nasceu em Almeirim. A atestá-lo, as diversas padarias que se mantêm em laboração em torno do Toucinho. Temos dois queijos secos que nos colocam na mesa no início, um deles de cabra, o outro manchego, de Espanha. Também podemos ter um pratinho de presunto pata negra bem fatiado, ou por exemplo paio do lombo ibérico.
O prato estrela é desde sempre a sopa de pedra. O nome tem a origem histórica de que todos sabemos e é um prato de tacho de fervura lenta feito com diversas carnes, a evocar o cozido, enriquecido com feijão. Continua a dar muito prazer à mesa e só funciona com produto de qualidade superior. O tempo e o prazer da mesa foram ao longo dos anos aprimorando a oferta e hoje temos nos pratos de peixe glórias como o bacalhau assado com feijão frade. Excelente qualidade e suculência que quase nos faz regressar à infância.
Nas grandes grelhas de que a casa dispõe, processam-se chocos grelhados que é impossível não adorar. Comi lá também peixe espada grelhado de que me recordo com carinho. E há camarão tigre grelhado que nos leva ao nirvana. Os pratos de carne são bastante variados. Gosto muito das febras de porco, transportam-me aos tempos de infância, pelos temperos contidos e pela suculência da carne. Sem véus nem disfarces. Hoje é raro darmos com casas assim. É brilhante o mix de orelha e rim de porco, de novo com absoluto aprumo culinário.
Há excelentes costeletas de borrego que podem ser fritas ou grelhadas, satisfazem muito bem. O entrecosto e o frango de churrasco são francamente bons. Ao sábado serve-se perna de borrego assada que é fundamental provar. E ao domingo, o borrego assado é rei.
As doces terminações configuram todas tentação e primam pela simplicidade do recorte caseiro. Há uma mousse de chocolate maravilhosa e oportuna para terminar em grande a refeição. O arroz doce é muito bom. Faz-se uma mousse de lima que vence e convence. E faz-se aqui uma sobremesa deliciosa que é o suspiro com doce de ovos. Tratamento completo e redenção incondicional neste reduto glorioso de Almeirim.