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Incrustado na clássica Rua da Madalena, o Velho Macedo é ícone tertuliano incontornável da cena restaurativa lisboeta. José Barbosa, na sala, e a sua mulher, Adília, na cozinha, são a alma desta casa única, que talvez muitos alfacinhas não conheçam ainda. Continua a congregar ao almoço a horda empresarial do costume, talvez hoje um pouco reduzida face à migração para lugares mais modernos. A compensar o efeito, o espaço é do agrado dos turistas e a sala está sempre matizada entre passantes e habituais.
Abrir com mexilhão à casa é entrar na refeição com o pé direito, processamento minimalista e trabalho culinário atento. Um pratinho de fino e tradicional presunto sabe sempre bem. A cozinha proporciona uma série de mini salgadinhos que é sempre bem-vinda. Também há gambas al ajillo de que guardo as melhores memórias. A chef tem mão culinária única.
A secção de peixes do cardápio tem vários valores seguros. O arroz de marisco é de antologia, sabores ao rubro e matéria-prima de muita qualidade. Nesta casa clássica apetece bem uma joia um pouco abandonada, que é bacalhau cozido com batatas e grão. O bacalhau à Brás é bem-feito e muito bem apaladado. E há lulas à lagareiro que importa conferir à mesa.
Nas carnes começo por destacar a vibrante e feliz carne de porco à alentejana, trabalho de excelência, produtos superiores. A canónica alheira de caça com ovo e batata frita feita tem o requinte caseiro que falta quase sempre. Há lombinhos de porco ibérico grelhados ou fritos que têm o condão de nos viciar o palato. Faz-se um bife à café que apetece repetir, carne maravilhosa e processamento de grande nível. O arroz de pato é uma ode pantagruélica, cheio de pequenos segredos, o que o torna único e apetecível. E há um medalhão de vitela com vinho Madeira que já pouco se vê em restaurante e que é muito bem-feito.
As sobremesas são de recorte caseiro e sabem a paraíso. Caso, por exemplo, do pudim molotov, muito saboroso, e caso também do toucinho do céu, que apetece repetir vezes sem conta. Tenho ligação afetiva forte a esta casa e ao comércio em volta. Era por aqui que em miúdo vinha cortar o cabelo com o meu pai e era por aqui também que o acompanhava dias inteiros nos seus trabalhos e afazeres. Guardo por isso as melhores memórias e talvez tenha sido nesse tempo que ganhei destreza e gosto por escrever à máquina. Hoje é no computador, mas o gesto é o mesmo.