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Vão já distantes os tempos épicos em que Maria Josefina e o seu filho, José Varunca de Sousa, fundaram em Estremoz o mítico Zé Varunca. José casou com Teresa, que cedo assumiu com força e agrado a cozinha. A certa altura, a família assumiu Paço de Arcos como novo espaço de realização, com a terceira geração representada pelos oficiantes João e Ruben. É, portanto, num reduto familiar que nos encontramos. A batuta culinária passou de sogra para nora, como tantas vezes acontece na cena restaurativa nacional.
Perto da Escola Náutica, é onde os encontramos e nos sentamos à mesa. Logo nos vêm à memória as deliciosas entradas da chef Teresa Sousa, com os casadinhos que aqui se fazem. Trata-se de fritos espalmados com batata e salpicão e o charme está na simplicidade, além de que são deliciosos. Há mil entradas disponíveis, a escolha é difícil. Torresmos de rissol, por exemplo, de fritura exemplar e seca. A salada de grão com bacalhau é muito boa também e a farinheira com ovos encerra o meu ciclo de favoritos entradeiros.
As sopas e caldos são de matriz familiar e merecem visita atenta. A canja de pato é incrível e come-se até ao fim com gula. O gaspacho à alentejana com peixe frito é histórico e é feito com a brunesa apertada de legumes que se espera. A sopa de tomate é contundente e configura quase refeição completa. O mesmo se pode dizer da sopa de cação, um clássico perante o qual não nos podemos fazer rogados.
Nos pratos de peixe temos o bacalhau dourado, equivalente cremoso do bacalhau à Brás, mas sem cebola, tal como imortalizado na Pousada de Elvas. Geniais os carapaus fritos com migas de tomate, que clamam por vinho branco, e neste casa a oferta é farta. Também gosto muito de aqui comer pataniscas com arroz de feijão.
Nos pratos de carne, as tentações são muitas e cedo a todas elas. Pezinhos de porco de coentrada são perdição e chupar todos os ossículos é experiência majestosa. A carne de porco à alentejana com amêijoas merece absolutamente prova atenta, pelos temperos e pela rusticidade - leia-se pureza - do processamento culinário. O rabo de boi estufado à Zé Varunca é outra receita que vai direta ao coração e apetece sempre. E as burras, ou bochechas assadas, só aqui se comem assim boas.
Nas doces terminações estamos muito bem servidos. O pudim de água de Estremoz é de gabarito e é feito de forma exemplar. O tecolameco é outra maravilha aqui disponível, húmido com muita amêndoa e ovo como manda a regra. E as farófias têm o toque que adoramos. Os pratos disponíveis ao longo da semana vão mudando, há que consultar o cardápio antes de cada visita. Todos os dias são perfeitos aqui.