A bicentenária Real Companhia Velha continua a revelar grande dinamismo: lançamento de novos vinhos Quinta das Carvalhas (DOC Douro), imagem mais moderna, mostra de colheitas recentes e um lado mais experimental
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O Portfólio Tasting é, a partir de 2025, a mostra anual das novidades da Real Companhia Velha.
Este ano, o evento serviu para apresentar, em estreia, dois vinhos tintos – Quinta das Carvalhas Reserva e Quinta das Carvalhas Vinha do Eirol – e as novas colheitas dos ex-libris Vinhas Velhas tinto e branco, agora designados como Quinta das Carvalhas.
A nova imagem dos vinhos da Quinta das Carvalhas, em que o terroir e as técnicas de viticultura têm grande influência, foi igualmente revelada.
"O local, mais do que as técnicas, é que marca o perfil do vinho", sustenta Jorge Moreira, enólogo da Real Companhia Velha.
Para o enólogo, "a Quinta das Carvalhas possui um grande património de vinhas velhas com um caráter único".
O Quinta das Carvalhas Branco 2023 resultou de uma colheita desafiante nesse ano. O mês de agosto define, regra geral, a maturação, mas o resto do ano foi difícil, com uma média de quatro graus acima do normal.
É um branco que estagiou em barricas usadas, devido à riqueza fenólica. Revela boa textura, frescura e untuosidade.
Elaborado com uma das castas que melhor resistem ao calor, o Quinta das Carvalhas Tinta Francisca 2020 apresenta o perfil aromático tradicional do Douro. O ano foi normal em termos de calor com chuva na fase final da maturação.
Este tinto apresenta o perfil aromático tradicional do Douro, sem excessos; no nariz, sobressaem as notas de fruta vermelha. Revela boa estrutura, um lado vegetal e taninos frescos. Tem bom potencial de evolução em garrafa.
A aposta em vinhos diferentes
O Quinta das Carvalhas Vinha do Eirol 2022, segue "a linha de produzir vinhos diferentes, na procura de um lado mais disruptivo", salienta o enólogo Pedro O. Silva Reis, sublinhando que "as vinhas mais viradas a norte permitem fazer vinhos com estrutura e mais concentração".
A vinha situada a 380 metros de altitude, num plano mais elevado em relação às parcelas habituais, permitiu fazer, num ano com pouca chuva e 22 dias com temperaturas entre os 37 e 45 graus, um vinho diferente, com pisa a pé e pouca extração; amplo de boca, pouco concentrado e motas marcantes de fruta vermelha.
Outra das estreias no portfólio da empresa é o Reserva Tinto 2022, um vinho que representa a Quinta das Carvalhas, revelando um perfil de alta densidade, resultante de uma grande mistura de castas, incluindo Touriga Nacional (50 por cento).
É um vinho com grande concentração e um perfil que revela frescura. Pouco pesado, suave e equilibrado, estagiou em madeira usada (cerca de 80 por cento) e os restantes 20 por cento em madeira nova.
A menina dos olhos dos enólogos da casa é o Quinta das Carvalhas Vinhas Velhas Tinto 2021: revela complexidade, muito equilíbrio e uma gestão de taninos muito bem conseguida. É um vinho leve e delicado, que dá prazer beber.
O lado mais experimental da enologia praticada na Quinta das Carvalhas está nas Amostras de barricas 2024.
De diferentes parcelas da emblemática quinta das Carvalhas, produziram-se vinhos num ano de condições mais frescas, apesar de um mês de agosto muito quente.
Vinha da Plombeira: apresenta o lado mais selvagem das Carvalhas. É um vinho austero com uma acidez marcante.
Vinha da Carvalheira Grande: produzido com uvas provenientes de uma parcela situada entre os 230 e os 360 metros de altitude, tem um perfil diferente, mais redondo, com notas de framboesa.
Vinha do Eirol: A vindima feita na hora certa permitiu a elaboração de um vinho com identidade e boa componente aromática, graças a um lado floral.
Vinha do Serro da Mina: é a base do vintage da Quinta das Carvalhas: estruturado, muito denso, apresenta taninos densos.
Vinha da Cascalheira: com exposição a sul, a parcela de Touriga Nacional, entre os 125 e os 200 metros de altitude, esteve na base de um vinho com carácter e uma identidade muito forte.
A prática de uma viticultura sustentável
Produzir vinhos que os consumidores gostem é o objetivo declarado da Real Companhia Velha nos tempos que correm. Vinhos com um perfil agradável e que reflita o espírito do produtor.
A empresa, com nome e história muito vasta, possui, no entanto, uma estrutura pequena, o que permite dar um cunho muito especial aos vinhos.
As uvas provenientes de cinco quintas permitem uma enorme diversidade na produção de vinhos, com base na tradição, experimentação e inovação.
Nascido e criado no Douro, Álvaro Martinho Lopes está desde 1997 na Real Companhia Velha, «a primeira empresa a pagar, em 2002, o mesmo salário a homens e mulheres, ao mesmo tempo que garantia condições de trabalho e de transporte. Hoje dois terços dos efetivos da estrutura são mulheres. As pessoas são importantes até para colocarmos em prática uma viticultura sustentável», sublinhou o técnico, que nutre uma enorme – e contagiante – paixão pelo território.
A região do Douro estende-se por uma área de 250 mil hectares, dos quais 18 por cento é ocupada por vinha, a monocultura do território onde existem 65 espécies, entre elas cinco tipos de águias.
Nas práticas sustentáveis seguidas na viticultura das quintas da empresa, a redução do uso de fármacos é uma realidade, com a criteriosa escolha dos produtos que têm menor impacto, em oposição aos inseticidas.
Outro fator positivo é a redução em cerca de 80 por cento do recurso aos herbicidas. "É um caminho consistente e assertivo para tratar bem a terra", refere Álvaro Lopes.
O vinho é um processo que nunca acaba e é um produto além da sua essência. Na Quinta das Carvalhas, com 50 hectares de vinhas velhas, o rufete é a casta mais plantada. Ali, pratica-se uma viticultura de montanha, muito diferente da viticultura plana.
"Reconverter as vinhas em modo tradicional, tornando as cepas velhas mais saudáveis, é algo que se consegue cuidando do solo", sublinha Álvaro Martinho Lopes, artífice de um trabalho exemplar no domínio das práticas sustentáveis.
