Vinevinu, o tão aguardado novo projeto de Luís Cerdeira e do filho Manuel, que se estende de Melgaço a Vila Nova de Famalicão, ganhou forma com o Almanua
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Em tempo recorde, reflexo de um dinamismo e invulgar capacidade criativa, Luís Cerdeira montou, em parceria com o primogénito Manuel, o projeto Vinevinu.
Para trás ficou o Soalheiro, a empresa familiar que o enólogo e produtor colocou como referência de topo no mundo do vinho Alvarinho da sub-região de Monção e Melgaço.
Na hora de mudar de página, aos 52 anos, traçou com o mais velho/(22 anos) dos filhos um plano ambicioso, num casamento, em teoria perfeito, da experiência, saber e entusiasmo com a juventude e irreverência de Manuel Cerdeira, que na britânica Brigton aprendeu, na prática, muitos dos segredos da enologia.
Pai e filho entregaram-se de alma e coração a este novo desafio, sem esquecer a Génese (Melgaço), mas partindo à conquista de uma nova região, de influência mais marítima (Vila Nova de Famalicão).
A visita à adega, em agosto passado, espoletou de modo célere o desenvolvimento do projeto. A brisa atlântica serviu de catalisador à ideia congeminada e a Vinevinu acabou por concretizar o aluguer por 20 anos da emblemática Casa de Compostela. Foi um passo decisivo para nascer a Adega do Mar, parte integrante do projeto que inclui a Adega da Montanha, em Melgaço.
Uma vez concluída, ali vai ser produzido o Génese, a ser lançado em março, um vinho 100 por cento Alvarinho, elaborado com uvas de uma vinha de 3 hectares, plantada em solos mais pobres, pouco argilosos, numa encosta de montanha e onde as amplitudes térmicas são elevadas.
Condições bem diferentes possui a Casa de Compostela, em Requião (Famalicão), emblemática propriedade do empresário têxtil famalicense Manuel Gonçalves: solos mais ricos em argila (20 por cento), elevada concentração de potássio e menores amplitudes térmicas, que permitem produzir vinhos com uma acidez equilibrada.
Os 17 hectares de vinha velha, ocupando a casta Alvarinho cerca de 4 hectares, sendo a restante área preenchida com Maria Gomes (5 hectares), Sauvignon Blanc (1,5 hectares) e Arinto estendem-se de forma harmoniosa aos nossos olhos.
"Tencionamos plantar mais 21 hectares de vinha", adianta Luís Cerdeira, determinado em "produzir vinhos a partir de ideias simples".
Viticultura regenerativa é aposta
Enologia, descoberta e inovação são palavras-chave do processo em que pai e filho confessam que «queremos, acima de tudo, ser enólogos e meter as mãos na massa. Controlar todo o processo é o limite do que pretendemos fazer a partir de ideias simples», adianta Luís Cerdeira.
O objetivo passa pela forte aposta numa viticultura regenerativa e na proteção da vinha velha, em particular com recurso a uma poda de precisão.
A produção de vinhos de lote, com estágios mistos em madeira de dois tipos, ou seja, barricas ‘mixtus’ carvalho francês e castanho português - - e inox é o conceito da VineVinu.
Todos os vinhos passam pelo ‘foudre’ durante 10 por cento do estágio.
Entre as barricas, destaca-se um volumoso ovo em cimento – único em Portugal -, proveniente de Sonoma, na Califórnia, com o peso de cinco toneladas e uma capacidade de 3800 litros, é menos poroso e permite uma micro oxigenação constante.
Almanua 2024 com três castas
O Almanua 2024, com rótulo que expressa o cuidado e bom gosto colocados no design, é um vinho elaborado com Alvarinho (50 por cento); Maria Gomes e Arinto (25 por cento cada).
Nas notas de prova, destacam-se a intensidade aromática, salinidade, frescura, acidez equilibrada e volume de boca, caraterísticas que conferem personalidade a este vinho com boa aptidão gastronómica.
Foram produzidas 50 mil garrafas deste excelente branco vocacionado para a restauração e à venda apenas em garrafeiras ao preço de 11 euros.
No portefólio contam ainda e de momento, o Almanua F; Guri 2024, com menor tero alcoólico e ‘2252’, as idades de pai e filho, um vinho com rótulo laranja produzido com Loureiro e obtido na última prensagem. Fermentou com as borras e estagiou em cuba de inox e em barricas usadas de carvalho francês.
Foram produzidas apenas 600 garrafas.
Espumante no horizonte
A produção de espumante está na mira de Luís e Manuel Cerdeira. Tudo aponta para que, lá mais para o final do ano, surjam novidades.
Entretanto, na adega, tivemos oportunidade de provar uma base de um espumante bruto de Alvarinho e Arinto (50 por cento cada) e de Padeiro e Espadeiro na mesma proporção.
Em cuba, estava um Loureiro, com elevada acidez, produzido com uvas oriundas de Paredes de Coura. Uma origem ‘Impossível’ para espumante, mas a fase de experimentação prossegue na adega projetada pelo arquiteto Januário Godinho, no início da década de 70 do século passado.
Enoturismo com caráter restrito
O enoturismo está igualmente associado a este projeto, mas funciona mediante uma divulgação muito mais restrita em relação aos moldes habituais.
O programa, com obrigatoriedade de marcação prévia, inclui visita à vinha, a bordo de um Range Rover, local de uma prova com sardinhas e Almanua.
A adega é o cenário ideal para a harmonização dos vinhos da Vinevinu com as criações gastronómicas do renomado chefe famalicense Álvaro Costa, um defensor intransigente da cozinha tradicional e dos produtos regionais.
O arroz de bacalhau (da Brasmar) é prato de eleição, que antecede uma prova de queijos de um produtor local, numa lógica regional de promoção do território adotada pela Vinevinu, que produz vinhos com Génese na montanha e Almanua no mar.
Apesar do ainda curto período de atividade, a empresa já exporta para oito mercados - Polónia, Inglaterra, Brasil, Estados Unidos, França, Alemanha e Macau – o que prefigura um trajeto de sucesso para o percurso agora iniciado por Luís e Manuel Cerdeira.
