Bruxelas, 30 jun 2019 (Lusa) -- O apoio do Partido Popular Europeu (PPE) à nomeação do socialista holandês Frans Timmermans para a presidência da Comissão Europeia seria "um erro histórico", defendeu hoje o primeiro-ministro húngaro numa carta endereçada ao presidente daquela formação política.
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Viktor Orbán inicia a sua missiva, datada de hoje e dirigida a Joseph Daul, ressalvando estar ciente de que o seu partido, o Fidesz, está suspenso do PPE e que, consequentemente, "não pode ter qualquer influência" nas decisões daquela família política.
"Contudo, a gravidade da presente situação obriga-me a escrever-lhe diretamente", justifica, considerando que um eventual apoio do PPE à nomeação de Frans Timmermans para a presidência da Comissão Europeia "seria um erro muito sério e até histórico".
Para o primeiro-ministro húngaro, é "humilhante" que o partido vencedor das últimas eleições europeias, que decorreram entre 23 e 26 de maio, abdique da posição pela qual lutou.
"Essa situação minaria completamente a nossa autoridade e dignidade no panorama político internacional e seria um sério revés para o prestígio do PPE aos olhos dos nossos eleitores. Pensarão para que apoiaram os partidos membros do PPE a nível nacional nas eleições europeias se agora entregamos a posição mais importante ao nosso principal rival", argumentou.
O apoio dos conservadores ao candidato principal do Partido Socialista Europeu, segunda força nas eleições de maio, com 154 eurodeputados eleitos, menos 28 do que a maior família política europeia, levará o PPE à autodestruição.
De acordo com a agência EFE, que cita fontes do Conselho Europeu, o presidente Donald Tusk apresentará esta noite aos chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE), reunidos numa cimeira extraordinária em Bruxelas, uma proposta, impulsionada por Alemanha (conservadora), França e Holanda (liberais) e Espanha (socialista), para a distribuição dos cargos de topo da UE, que reservaria a presidência do executivo comunitário aos socialistas europeus na próxima legislatura.
"Peço-lhe, senhor Presidente, que empreenda todos os esforços para evitar este cenário de derrota", conclui.
Em 20 de março, a assembleia política do PPE decidiu suspender "com efeito imediato" o Fidesz do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán.
O processo de suspensão do Fidesz foi desencadeado por 14 partidos, entre os quais PSD e CDS-PP, que pediram a suspensão ou expulsão do partido nacional-conservador populista de direita que governa a Hungria desde 2010 com maioria absoluta.
Orbán é recorrentemente criticado pela suas políticas anti-imigração, ataques à independência da justiça ou restrições à atividade de organizações estrangeiras, mas a gota de água para esta decisão foi uma campanha anti-imigração promovida pelas autoridades húngaras, intitulada "Você também tem o direito a saber o que Bruxelas está a planear", veiculada em painéis gigantes e anúncios de página inteira nos jornais e que tinha o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, também ele membro daquela família política, como um dos alvos.