Um estudo internacional, em que colaaborou um investigador do Porto, mostrou que os mamíferos percorrem distâncias duas a três vezes mais curtas em paisagens modificadas com barragens, estradas e edifícios, o que origina consequências negativas acrescidas nos ecossistemas.
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Os resultados deste estudo, publicados hoje na revista científica Science, indicam que este comportamento pode ter "amplas consequências para os ecossistemas", nos quais os animais desempenham "funções essenciais", disse à Lusa o investigador João Paulo Silva, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), envolvido no projeto.
De acordo com o investigador, as áreas que condicionam os movimentos dos mamíferos, seja por falta de alimento ou pela existência de infraestruturas que geram um efeito de barreira e de fragmentação do habitat, limitam a sua livre circulação, comprometendo a sobrevivência dessas espécies e o próprio funcionamento dos ecossistemas.
Nas suas deslocações, que variam consoante o tamanho, o comportamento e os hábitos das diferentes espécies, estas são intermediárias de processos que envolvem, por exemplo, a dispersão de sementes e a reprodução de plantas, explicou o investigador.
"Por outro lado, os animais, ao estarem condicionados a áreas mais confinadas, podem levar a um aumento da probabilidade de conflito com o Homem em áreas rurais ou até à disseminação de doenças", referiu.
"Atualmente, em pleno Antropoceno - nova era causada pelo impacto da actividade humana -, entre 50 e 70% da superfície terrestre encontra-se alterada, não existindo áreas que, de forma direta ou indireta, não estejam alteradas pelo Homem", indicou João Paulo Silva.
As áreas terrestres menos humanizadas, contou, tendem a coincidir com as mais agrestes e as as menos produtivas, de baixo valor económico.
Para o investigador, essa é a principal causa da degradação e perda de habitat e biodiversidade.
As conclusões deste estudo demonstram igualmente que o impacto das actividades humanas nos movimentos dos mamíferos é visível principalmente em intervalos de tempo mais longos.
"Num período de 10 dias, em áreas com um Índice de Pegada Humana comparativamente elevado, os mamíferos percorreram entre metade e um terço da distância percorrida em paisagens naturais. Já em escalas de tempo mais curtas, como uma hora, não se percebem diferenças no padrão de movimentação", esclareceu João Paulo Silva.
Para o obtenção dos resultados, a equipa de investigadores analisou os movimentos de mais de 800 animais, representando 57 espécies, em várias partes do planeta, recorrendo a informações recolhidas com dispositivos GPS e ao Índice de Pegada Humana, que mede o nível de internação humana.
O estudo, designado "Moving in the Anthropocene: Global reductions in terrestrial mammalian movements", põe em evidência "a necessidade de manter a permeabilidade dos habitats ao movimento dos animais", frisou João Paulo Silva.
E acrescentou: "para isso, é fundamental que futuros projetos assegurem a permeabilidade do habitat aos movimentos e que, em particular, se previnam impactos cumulativos causados por infraestruturas, que provocam efeito barreira ou de fragmentação do habitat, como as estradas, as ferrovias e as barragens".