Cartum, 01 jul 2019 (Lusa) -- Pelo menos dez pessoas terão sido mortas no domingo em confrontos com as forças de segurança em Cartum, durante várias manifestações de apoio à transição do poder para os civis no Sudão, de acordo com os ativistas.
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Dezenas de milhares de sudaneses inundaram este domingo as ruas da capital sudanesa, na maior manifestação desde que as forças de segurança arrasaram no mês passado o acampamento de ativistas que reclamavam em frente ao quartel-general (QG) das Forças Armadas (FA) em Cabul desde abril a entrega do poder pelos militares a um Governo civil de transição.
Uma junta de generais sudaneses assumiu em abril o controlo do país depois de depor o antigo chefe de Estado, Omar al-Bashir, detido desde o golpe de Estado militar e entretanto acusado pela Procuradoria-Geral do Sudão de "posse ilegal de divisas estrangeiras, corrupção e receção de prendas".
Nazim Sirraj, um destacado ativista sudanês, afirmou à agência Associated Press (AP) que foram encontrados três corpos perto de uma escola em Omdurman, cidade situada em frente à capital sudanesa na margem oeste do rio Nilo.
As três vítimas foram mortas por disparos numa área que tinha sido barricada pelas forças de segurança com o objetivo de impedir o avanço dos manifestantes na direção de um hospital local, indicou aquela fonte.
Sirraj afirmou que o total de vítimas ascende à dezena e inclui um morto na cidade de Atbara, um entreposto ferroviário a norte de Cartum, berço do movimento de protestos iniciado em dezembro, que levou à queda de al-Bashir.
O Comité de Médicos Sudaneses, uma organização sindical ligada à Associação de Profissionais Sudaneses, que tem liderado os protestos, confirmou o balanço de mortes.
As autoridades sudanesas começaram por avançar com um balanço de sete mortos e cerca de 200 feridos, incluindo 27 por disparos de armas durante a manifestação.
A junta militar responsabilizou os líderes do protesto pelas mortes, por terem alterado a rota prevista da manifestação.
Gamal Omar, um general membro do conselho militar, afirmou através de um comunicado ser lamentável que as Forças para a Declaração da Liberdade e da Mudança, a organização que representa o movimento de protesto, tenham desviado a manifestação em direção ao palácio presidencial e ao quartel-general das FA.
A mesma fonte indicou que as forças de segurança responderam com gás lacrimogéneo às pedras que foram atiradas contra elas.
A mesma fonte revelou que as forças de reação rápida sudanesas detiveram elementos que dispararam contra as forças de segurança em Omdurman, matando duas pessoas e ferindo três elementos das forças de segurança. Omar avançou ainda que mais de duas dezenas de operacionais das forças de segurança foram feridos em todo o país.
As manifestações ocorrem depois de as negociações entre o Conselho Militar do Sudão, que governa o país, e os líderes dos protestos, para um acordo de partilha de poder, terem chegado a um impasse.
No início do mês, pelo menos 128 pessoas foram mortas numa outra manifestação e na repressão que prosseguiu nos dias seguintes, segundo médicos. As autoridades indicaram um balanço de 61 mortos.
O Darfur é palco desde 2003 de conflitos entre forças sudanesas e rebeldes de minorias étnicas que se dizem "marginalizados pelo Governo central".
Segundo as Nações Unidas, o conflito em Darfur deixou cerca de 300.000 mortos e mais de 2,5 milhões de deslocados.