...para «vítimas da moda», e não só.
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O título pode parecer estranho para um Fiat, mas o facto é que, estética à parte, este novo 500 renega por completo as raízes proletárias dos antepassados 500 e 600 das décadas de 50 e 60 do século passado. A reedição deste clássico tem qualidade e, sobretudo, charme quanto baste para se bater com outras propostas premium do segmento A. O Mini que se cuide.
Os primeiros meses de comercialização do 500 em Portugal, confirmam o que o protótipo Trepiuno de 2004 deixava antever, este é um automóvel de culto. Basta consultar a lista de espera para receber um 500. No início de Julho, a Fiat garantia que bastavam dois meses de espera para ter um 500, mas alguns telefonemas para concessionários da marca italiana confirmaram um cenário bem diferente, com os vendedores a falarem em demoras de entre quatro a cinco meses para entregar um 1.3 JTD Loundge igual ao testado pela TSF. Para responder à procura, elevada em toda a europa, a Fiat já reviu em alta a cadência de produção na fábrica Tychy, na Polónia, onde o pequeno é produzido, a par do irmão de plataforma, o Panda.
A base do Panda surge aqui ligeiramente alterada, para ajudar a dar forma a uma carroçaria que mais parece uma fotocópia ampliada do 500 original, nascido em 1957. O aspecto é assumidamente retro, e provoca arrebatadas paixões por onde passa. A frase é batida mas, a julgar pelos dias em que a TSF conduziu este 500, ninguém parece ficar indiferente ao design, sobretudo ao olhar provocador do pequeno Fiat. E depois há a surpresa da qualidade, quer na escolha dos materiais, quer na montagem, este 500 está uns bons passos acima da restante gama do construtor de Turim. O bater de porta, por exemplo, é sólido e transmite confiança, tal como o resultado global dos crashtests da Euro NCAP – 5 estrelas na protecção dos ocupantes –, um resultado apoiado nos sete airbags oferecidos de série em todas as versões, incluindo um para proteger os joelhos do condutor.
O interior do 500 repete a receita do exterior, design apurado e muito charme. A combinação de cores e tons da versão ensaiada resulta num habitáculo alegre, ainda que algo exposto à sujidade. A propósito de cores, uma quase interminável lista de acessórios, equipamentos, e soluções de decoração (até a chave pode ser personalizada…), garantem a possibilidade de perto de 500.000 configurações diferentes do 500, ou seja, pode ser difícil encontrar dois absolutamente iguais.
A qualidade, já se disse, é surpreendente para um Fiat, e é difícil apontar defeitos. Ainda assim, no topo da curta lista de contras está o espaço ocupado pela consola central, herdada do Panda e que serve de suporte à caixa de velocidades. A ideia de ter o punho da caixa sobrelevado é boa, melhora a ergonomia, mas a dita consola incomoda a perna direita do condutor, sobretudo porque os pedais estão descentrados, de forma ligeira, para a direita. A convivência diária com o 500 tropeça ainda numa outra irritação, não existem espaços fechados para guardar objectos; ou seja, o porta-luvas é uma miragem. De resto, a posição de condução é aceitável e, nos dois lugares da frente, o espaço disponível não desilude. Atrás, a conversa é outra, com a forma a sobrepor-se à função. O formato da traseira, decalcado da carroçaria de 1957, com a linha do tejadilho a cair a pique desde muito cedo, coloca enormes restrições a quem ocupa os dois assentos traseiros, desaconselhados a adultos acima de 1,70 metros. A capacidade da bagageira, não parece sofrer do mesmo mal, oferecendo aceitáveis 185 litros.
Ao volante, e com este diesel 1.3 de 75cv, o 500 move-se com determinação. O motor acorda perto das 1500 rpm, o que evita recurso excessivo à caixa de velocidades, e torna a vida mais fácil em ambiente urbano. A Fiat anuncia uma velocidade máxima de 160 km/h, pelo que o 500 aceita, sem queixumes, passeios mais longos por auto-estrada. Olhando ainda para os números oficiais, o 500 demora 12,5 segundos dos 0 aos 100 km/h, e a Fiat promete um consumo misto de 4,2 l/100. Na vida real, é bem possível «navegar» com consumos à roda dos 5 l/100.
O 500 é relativamente bem comportado. Em rotundas, ou sucessões de curvas, nota-se um ligeiro adornar da carroçaria, ainda assim mais moderado do que o do irmão de plataforma, o Fiat Panda. Em caso de exagero, o 500 apresenta reacções previsíveis, sendo que qualquer escorregadela não planeada é facilmente corrigida com o aliviar do pé direito. O comportamento chega a ser divertido, mas não se aproxima da eficácia do principal concorrente, o Mini by BMW. Em pisos menos bons, agradece-se a rigidez do chassis, e a ausência de ruídos parasitas. Ainda assim, não há milagres, e a reduzida distância entre eixos resulta em desconforto quando o 500 passa por mau piso, sobretudo para quem segue nos lugares traseiros.
Com este nível de equipamento, o mais completo, e juntando como opção apenas o ar condicionado automático, este Fiat 500 1.3 JTD Lounge vale 18.500€. Não é barato, está ao nível de propostas do segmento acima (Fiat Grande Punto, Peugeot 207, Ford Fiesta ou Opel Corsa) com motores equivalentes, mas está na moda, apaixona, e vende-se pela Europa fora como pãezinhos quentes. Em Portugal, a procura também está em alta. Aliás, consultando alguns sítios na Internet especializados na venda de automóveis usados, é possível encontrar diversos Fiat 500, semi-novos e semelhantes ao testado pela TSF, a preços inflaccionados, atingindo nalguns casos os 22.000€.